resenha

F*ck Love – Tarryn Fisher

12 set 2017
Informações

F*ck Love

Tarryn Fisher

Faro Editorial

série ---

288 páginas | 2017

3.75

Design 3.5

História 4

16

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Helena Conway se apaixonou.

Contra sua vontade. Perdidamente. Mas não sem motivo.

Kit Isley é o oposto dela desencanado, espontâneo, alguém diferente de todos os homens que conheceu.

Ele parece o seu complemento. Poderia ser tão perfeito… se Kit não fosse o namorado da sua melhor amiga.

Helena deve desafiar seu coração, fazer a coisa certa e pensar nos outros. Mas ela não o faz…

“Tentar se afastar da pessoa amada é como tentar se afogar. Você decide fugir da vida, pulando na água, mas vai contra a natureza não buscar o ar. Seu corpo clama por oxigênio sua mente insiste que você precisa de ar. Então você acaba subindo à superfície, arfando, incapaz de negar a si mesma essa necessidade básica de ar. De amor. De desejo ardente.”

Você pode pensar que já viu histórias parecidas, mas nunca tão genuínas como essa. Tarryn, a escritora apaixonada por personagens reais, heroínas imperfeitas, mais uma vez entrega algo forte, pulsante, que nos faz sofrer mas também nos vicia. Depois dela, todas as outras histórias começam a parecer como contos de fadas.

Se você não quer se viciar, não leia a primeira página.

Design

Eu tenho sentimentos conflitantes com a capa de F*ck Love, muito por culpa da montagem da rosa/coração nessa mão da imagem. Acho que é uma foto tão forte que ao mesmo tempo que eu acho interessante visualmente, me causa uma certa repulsa por não conseguir entender direito o coração. Tem vezes que eu vejo uma lagarta ali na mão, e eu não sou muito fã de insetos…

Mas sim, é uma capa muito forte. A imagem chega até a roubar um pouco o protagonismo que poderia ser do título do livro. O F*ck fica um pouco embolado com toda a atração visual que a mão-coração atrai. Acho interessante que o nome da autora está em uma posição privilegiada, no topo esquerdo da arte, mas ainda assim ela não é tão chamativa quanto poderia ser. Gosto muito da fonte com o “centro de gravidade” rebaixado. É modernoso e ao mesmo tempo vintage com uma pegada de art deco.

Gosto muito que toda a capa tem esse padrão cromático meio “duotone” em que o vinho e o preto tem tanto protagonismo, e como essa presença da cor se espalha para a lombada e para a quarta-capa.

O que me incomodou um pouco foi a mistura de fontes para o título, com uma que tem uma pegada grunge agressiva e outra quase manuscrita/cursiva. E a presença da frase de apoio. Sempre prefiro que esse tipo de elemento venha na quarta-capa.

Falando dela, eu gosto bastante da imagem da moça revoltada com o amor, com o padrão cromático, mas esse box branco para criar um “calço” visual para a sinopse não ficou tão maneiro… Terminando de falar da capa, acho maravilhoso quando o projeto gráfico engloba também o verso da capa, a parte de dentro que às vezes fica escondida pelas orelhas. Aqui em F*ck Love tem uma chapada de cor vinho e o desenho em traço de um coração. Se você tiver a oportunidade de ver o livro “na mão” abra as orelhas para apreciar a arte.

Vamos falar do miolo? Eu gostei do projeto, mas tenho uma consideração nos títulos dos capítulos, já vou chegar lá.

Não entendi muito bem porque na capa existe um subtítulo pro livro, mas ele não aparece em mais lugar nenhum: nem na folha de rosto, nem na ficha catalográfica… será que isso significa que ele não precisaria estar no projeto da capa?… Bem, mas tem uma página de abertura com uma chapada de preto e uma desconstrução do traçado do coração do verso da capa.

As aberturas de capítulo são bem interessantes visualmente. A mesma desconstrução aparece aqui no topo da página, como uma moldura visual para o número do capítulo e o título. A fonte usada no nome da autora na capa aparece de novo aqui dentro no número do capítulo e na frase de abertura do texto, que também vem toda em caixa alta. Bonito. Adoro quando as fontes escolhidas no projeto são utilizadas em diversos elementos. <3

A mancha gráfica é bem gostosa, ocupa bem o espaço da página com boas margens. A fonte do texto é bem agradável de ler, com um bom tamanho e entrelinha. Uma pena que não tenha a marcação de cabeçalho nas páginas.

Mas a única coisa que me incomodou muito no miolo foi a fonte dos títulos dos capítulos. Cada novo capítulo é iniciado por uma # que representa o que Helena quer contar para o leitor. Só que a fonte é tão rebuscada que chega a ser difícil de ler o que está escrito. Principalmente porque conceitualmente uma # não tem espaço entre as palavras. Então como as letras da fonte escolhida às vezes se fundiam, ficava ainda mais difícil de ter uma legibilidade adequada para entender o texto.

Uma das coisas mais legais de “analisar” o projeto gráfico dos livros é ver também como o tipo de papel escolhido para o projeto impacta no peso, físico e visual, do livro. F*ck Love tem 288 páginas, mas se colocado do lado de Lugar Nenhum com suas 336 páginas, o primeiro parece um livro muito maior e volumoso. Isso é tudo “culpa” da gramatura do papel que faz com que o livro pareça maior quando normalmente não é.


História

Uma das coisas que eu mais gosto como leitora é conhecer novos autores. Principalmente quando esses autores são bons. Tarryn Fischer foi muito bem recomendada e ela tem ótimas notas no Goodreads. Então, né… por que não conhecê-la.

Acho que o que eu mais gostei foi o estilo da Tarryn. Ela “fala” de uma forma “natural” e moderna. Seus personagens poderiam ser qualquer pessoa com quem você convive hoje. Às vezes, essa voz mais atual faz toda a diferença na hora de se aproximar de uma história e dos personagens.

F*ck Love começou MUITO confuso pra mim (talvez porque eu tenha pegado pra ler na hora de dormir), MAS depois que você entende que todo o primeiro capítulo foi a apresentação do sonho de Helena, as coisas começam a fazer mais sentido.

Você já teve algum sonho tão vívido, tão REAL, que ele passou a interferir na sua vida? Eu já. E acho que esse foi um dos motivos que permitiu que eu me aproximasse ainda mais da Helena.

Quando eu tinha 17~18 anos, eu tive o mesmo sonho durante uma semana inteira. Eu sonhava com o meu marido, que obviamente não era meu marido na época, mas meu colega de turma no colégio. O sonho foi tão importante, tão impactante que TCHARAN! estamos juntos até hoje.

Então, sim. Eu consigo entender um pouco como o sonho da Helena mexeu com a cabeça dela. Como ele pode ter afetado toda a sua vida a ponto de interferir no seu relacionamento amoroso e em suas amizades.

Sabe, sei nada de estudos de sonhos, Freud ou coisas psicanalíticas. Mas li em algum lugar da internet uma vez (e se está na internet é verdade), que os sonhos são manifestações do nosso subconsciente, tentando ajudar a gente a entender ou perceber coisas que não estamos muito ligados conscientemente.

Tá que muitas vezes isso vem disfarçado de sonhos MUITO LOUCOS de dentes caindo, você pelado na rua e ninguém ligando, ou maremotos sinistros (esse é por minha conta). No caso de Helena, foi quase um sonho profético, de como a vida dela seria no futuro.

Fico pensando se de alguma forma o cérebro dela já tinha captado os sinais e montou uma historinha para fazer ela pensar sobre o assunto…

A história de Helena começa depois do sonho, quando ela começa a ficar encanada com o namorado da melhor amiga.

Helena começa a perceber Kit de uma forma diferente, tentando encontrar no cara “de verdade” a faceta que ela conheceu em seu sonho. Só que Helena começa a dar meio na cara, principalmente pra sua melhor amiga que percebe que tem mais coisa ali do que o interesse de uma simples amizade.

Principalmente depois que ela termina o relacionamento que tinha com Neil exatamente pelo motivo que ela foi avisada, outra “previsão” que teve no sonho. Por conta de sua nova solteirice, Helena fica ainda mais presente entre Della (a melhor amiga) e Kit. Della simplesmente não permite que Helena tenha o seu tempo de “luto” pelo fim do namoro e “força a amizade” ao limite.

Assim, no começo eu fiquei um pouco preocupada que Della fosse uma personagem criada só para que Helena praticasse o slut shame. Só que com o desenvolvimento da história você começa a perceber que Della não é uma pessoa muito boa mesmo não, chegando a ser meio perturbada da cabeça. Ok, é compreensível, uma vez que sua melhor amiga está obviamente dando em cima do seu namorado. Mas, desculpa, Della é totalmente não-gostável.

E Helena tem relacionamentos mais saudáveis com outras mulheres ao longo da história. Greer e June são outras amigas que aparecem na vida de Helena e a ajudam a ser uma pessoa mais madura e melhor.

(…) E mantenho o foco nelas – nas coisas que aprendi, não nas coisas que não vivenciei. Percebi que as pessoas não olham você realmente nos olhos, porque os olhos delas estão voltados para outro lugar. Estão apontados para dentro delas próprias. (…) Kit me faz sentir assim – como alguém que na apenas olhas como também enxerga. Quero ver as pessoas. (p.249)

Engraçado que por mais que a paixão que Helena começa a sentir por Kit tenha sido estimulada por um sonho, eu não sei se consegui conhecer o personagem direito ao longo da história para entender porque ela queria tanto ficar com ele.

Fiquei com a sensação de que, ok, Kit existe, ele é legal, e a Helena gosta dele. Mas não sei se ele teve uma construção que o definisse realmente pra mim para que EU gostasse e me interessasse por ele. Inclusive, em alguns momentos o Kit que Helena descreve e interage não parece uma pessoa muito legal.

De qualquer forma, quando Helena percebe que não tem espaço entre Della e Kit, e aparentemente não vai cobrar nada do cara ou nem tentar ter uma conversa com ele, Helena foge da Flórida para tentar encontrar o seu lugar. Acho que o melhor de tudo, ela vai tentar se encontrar. E é na cidade natal de Kit que ela vai começar a ser mais autônoma e independente de verdade.

É meio louco ela ir para a cidade de onde Kit “fugiu” e ir morar com a ex-namorada dele? Super é. Mas ao mesmo tempo, é esse relacionamento que a ajuda a tentar entender seus sentimentos de verdade.

Contrastes são importantes na vida. Compreendemos a luz porque podemos compará-la com o que conhecemos como escuridão. O doce se torna ainda mais doce depois que comemos algo amargo. A mesma coisa acontece com a tristeza. E é importante experimentar a tristeza, e aceitá-la, para saber de verdade o que é a felicidade. (p.249)

Acho que Greer e um outro personagem que aparece bem mais pra frente no livro são “avatares” de movimento e questionamento para Helena. É como se fossem personificações de situações e decisões que ela precisa tomar e entender para continuar progredindo na vida. E eu só tive essa “iluminação” conversando com a Andrea Jocys, maravilhosa responsável de marketing da Faro. A gente já se conhece de outros carnavais, e é sempre ótimo bater uma bola com ela para tentar entender alguma coisa que não fez sentido durante a leitura.

– Talvez você não tenha usado um vestido assim, mas isso não significa que não seja o seu estilo. Algumas pessoas são reservadas demais e muito presas aos seus hábitos, por isso acabam não percebendo que roupa lhes cai bem. (p.153)

Por mais ficção que seja tudo que acontece na vida da Helena (e as coisas sempre parecem mais fáceis lá no EUA do que por aqui), eu achei que é bem crível e bem próximo de uma situação real. Uma mulher se apaixonar pelo namorado da melhor amiga, e sem querer descobrir que existe interesse dele também…

Agora, a história me perdeu um pouco em dois momentos. Quando Della aparentemente engravida de propósito para “segurar” Kit no relacionamento. Eu não consigo ter empatia e/ou me interessar por situações de gravidez e de filhos. De verdade, tenho dificuldade de me relacionar com essa fase da vida que gazilhões de pessoas consideram natural. Então, quando isso passa a ser o plot principal da história eu viajei um pouco.

Principalmente pela questão de Helena estar se apegando a uma filha que não era dela, e que provavelmente seria reintegrada à mãe e à família em algum momento. E o fato de ela ter rompido a amizade com Della e ao mesmo tempo se sentir responsável por cuidar tanto da amiga quanto da bebê. Vai ver que eu sou uma pessoa de coração ruim, que provavelmente não teria essa atitude no lugar de Helena, mas achei de uma abnegação bonita de ser mostrada, mas um pouco difícil de acreditar.

A outra coisa foi o final corrido e com a aparição de um dos personagens “avatar” que tem uma construção meio doida, além de ser daqueles que não é nem um pouco confiável. Ele é um agente de tomada de decisão para a Helena, mas a forma como isso acontece é um tanto confusa. Foi outra coisa que precisei conversar com a Andrea para tentar entender.

Eu queria que a Tarryn Fisher tivesse dedicado um pouco mais de tempo para construir um final um pouco mais funcional e menos fragmentado. E que Muslim (o personagem “avatar) tivesse um desenvolvimento mais real e menos frustrante como personagem.

Gostei bastante da história que Tarryn contou. Gostei da forma como ela apresenta o amadurecimento e as descobertas de Helena.

F*ck Love é mais um romance que teria se resolvido com uma boa caneca de chá e uma conversa sincera e madura entre as duas partes envolvidas. Ainda acho que um dos maiores “defeitos” do serumano é achar que seus parceiros são obrigados a ler mentes e a saber que “não é nada”, na verdade, é um mundo de coisas que eles “deveriam saber” há muito tempo. Sério, a única coisa que se consegue com esse tipo de comportamento é ficar sozinho.

Só fica um aviso. Se você está procurando por um romance apimentado e com cenas quentes não é isso que você vai encontrar em F*ck Love. Até existe a construção da tensão sexual dos personagens, mas não estamos falando de uma Sylvia Day. A evolução e amadurecimento dos personagens é mais importante do que a realização sexual deles.


Até a próxima! o/

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parceria com a editora faro editorial

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