resenha

Deuses Americanos – Neil Gaiman

9 mar 2017
Informações

deuses americanos

neil gaiman

intrínseca

série deuses americanos #1

576 páginas | 2016

3.75

Design 4.5

História 3

16

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Obra-prima de Neil Gaiman, Deuses americanos é relançado pela Intrínseca com conteúdo extra, em Edição Preferida do Autor.

Deuses americanos é, acima de tudo, um livro estranho. E foi essa estranheza que tornou o romance de Neil Gaiman, publicado pela primeira vez em 2001, um clássico imediato. Nesta nova edição, preferida do autor, o leitor encontrará capítulos revistos e ampliados, artigos, uma entrevista com Gaiman e um inspirado texto de introdução.

A saga de Deuses americanos é contada ao longo da jornada de Shadow Moon, um ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de ser libertado e cujo único objetivo é voltar para casa e para a esposa, Laura. Os planos de Shadow se transformam em poeira quando ele descobre que Laura morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem emprego e sem rumo, ele conhece Wednesday, um homem de olhar enigmático que está sempre com um sorriso no rosto, embora pareça nunca achar graça de nada.

Depois de apostas, brigas e um pouco de hidromel, Shadow aceita trabalhar para Wednesday e embarca em uma viagem tumultuada e reveladora por cidades inusitadas dos Estados Unidos, um país tão estranho para Shadow quanto para Gaiman. É nesses encontros e desencontros que o protagonista se depara com os deuses — os antigos (que chegaram ao Novo Mundo junto dos imigrantes) e os modernos (o dinheiro, a televisão, a tecnologia, as drogas) —, que estão se preparando para uma guerra que ninguém viu, mas que já começou. O motivo? O poder de não ser esquecido.

O que Gaiman constrói em Deuses americanos é um amálgama de múltiplas referências, uma mistura de road trip, fantasia e mistério — um exemplo máximo da versatilidade e da prosa lúdica e ao mesmo tempo cortante de Neil Gaiman, que, ao falar sobre deuses, fala sobre todos nós.

design

Eu adoro a capa de Deuses Americanos em sua “estranheza” elegante. Primeiro que todas as fontes utilizadas podem ser consideradas Display. Segundo o site Fonts.com:

Fontes display são utilizadas para seduzir o leitor, criar um “clima” ou sentimento, ou para anunciar uma informação importante.

No caso aqui foi o sentimento de estranheza que mais me pega, principalmente porque a fonte parece ter sido escrita a mão. Como se alguém tivesse digitalizado o estilo de escrita de uma pessoa. E essa pessoa parece ter probleminhas porque as letras não são uniformes. Além disso, a fonte do título é diferente da fonte do autor, que é diferente da fonte das chamadas, mas todas tem essa pegada tremida. Talvez a pessoa tenha múltiplas personalidades…

Outra coisa legal da capa é a árvore que ilustra o centro de toda a arte. Levando em consideração a história ela deve ser uma alusão à Yggdrasil, a árvore mítica dos nórdicos, que ligava os diversos mundos.

A quarta capa é bem simples quando comparada com a capa, e utiliza só as cores básicas do projeto, o azul e o “dourado”. As cores são empregadas principalmente para criar hierarquia entre os conteúdos e áreas de foco e interesse para o leitor.

Acho que vale comentar que a Intrínseca criou um certo padrão para os livros que lançou do Neil Gaiman. Os Filhos de Anansi e Lugar Nenhum também tem essa mesma estética de estranheza e um padrão cromático de uma cor básica com “dourado”.

Esse projeto tem uma coisa diferente que é o tamanho GIGANTE das orelhas. Elas praticamente chegam até a parte interna da lombada e imagino que sejam desse tamanho para comportar o tanto de informação que tem escrita nelas.

deuses americanos - neil gaimanPros que gostam de easter eggs, a falsa folha de rosto tem uma ilustração que lembra a capa original do livro, com o raio caindo na estrada.

Falando do miolo agora. As aberturas das diferente partes do livro são em folhas com chapada de preto criando uma identidade visual até mesmo com o livro fechado.

Existe uma alternância entre capítulos de evolução da história, que são numerados e sempre tem uma citação; e capítulos de contextualização dos deuses na América, que tem um título e uma data “histórica”.

A fonte do miolo parece ser a que a Intrínseca costuma usar em seus projetos gráficos, mas não consegui achar o nome no livro, e ele não tem o colofon, aquela parte de informações que costumam ficar na última página.

De qualquer forma, a fonte tem um ótimo tamanho, entrelinha e ocupação na página, com margens equilibradas. As informações do cabeçalho (autor e título do livro) estão no rodapé, dando uma arejada para o topo.


história

É bem provável que eu termine de escrever esta resenha e ainda não tenha realmente me decidido se gostei ou não, ou até mesmo se entendi ou não de Deuses Americanos.

Um pouco de contextualização sobre meu relacionamento com Neil Gaiman. Em 1997 a Abril lançou uma graphic novel em 3 partes da Morte, uma das irmãs do Sandman. Só que na época, no auge dos meus 16 anos (e de muito rivotril) eu comprei a trilogia não por conta do autor, mas do ilustrador dos quadrinhos, Chris Bachalo.

Morte: o grande momento da vida - neil gaiman

O traço do desenhista me chamou a atenção e ele até acabou indo para Marvel mais tarde e desenhou os X-men, inclusive algumas partes de X-men Era do Apocalipse. <3 #saudadesX-men

Mas estou fugindo do assunto. Quando comprei Morte: O Grande Momento da Vida não fazia ideia de quem era Neil Gaiman e do valor de Sandman e todo seu universo.

Em 2013 a Intrínseca lançou O Oceano no Fim do Caminho e eu já tinha uma melhor ideia de quem era Neil Gaiman, por conta de todos os livros e das graphic novels que foram trazidas desde meu primeiro contato com o autor em 1997. E a experiência que tive com esse livro foi relativamente mágica, cheia de pensamentos, certas momentos assustadores e filosóficos.

Deuses Americanos é uma das principais obras do autor. E achei que provavelmente encontraria o mesmo tipo de experiência que tive com Oceano. E nessas horas é que a gente descobre que a expectativa pode destruir ou atrapalhar sua leitura.

Ok, não destruiu de verdade, porque afinal eu acho que gostei do livro. Mas eu meio que estava esperando momentos reflexivos, críticas, contemplação do universo, aqueles tipos de coisas que fazem você ter a sensação que terminou o “melhor livro da sua vida”, sabe? Então… assim, nesse quesito, Deuses Americanos foi meio que uma decepção.

Talvez eu não conheça a história americana profundamente para poder absorver as críticas que o autor provavelmente fez ao longo do livro… Ou talvez eu precise reler Deuses Americanos em um futuro para poder ter outra visão de toda a jornada de Shadow.

A base principal da história é exatamente a road trip que Shadow faz pelos EUA. Depois de sair da prisão, ele é contratado por Wednesday para ser seu motorista/menino de recados/segurança. O lance aqui é que Wednesday é um dos muitos deuses que existem no território americano, competindo pela fé dos humanos, e ele afirma que uma tempestade se aproxima. Ele acredita que os deuses antigos e os novos vão acabar se enfrentando pela supremacia nos pensamentos dos humanos.

Só que assim, durante os 2/3 iniciais do livro a sensação que tive era que Shadow e Wednesday estavam simplesmente percorrendo diferentes cidades e estados americanos, eventualmente esbarrando com um ou outro deus, tentando recrutá-lo para o exército de Wednesday.

Mas Shadow não se desenvolvia. Eu não via nenhum desafio ou obstáculo real que o personagem precisava passar. Não sentia temor ou angústia pelas coisas que Shadow enfrentou ao longo do caminho. Ao mesmo tempo, nem ele tinha muito interesse pelo que estava acontecendo no mundo dos deuses. Como Wednesday comentou em algumas passagens, ele não era pago para fazer perguntas, e isso se refletia na quantidade de informação que o leitor tinha.

Em dado momento, um personagem diz a Shadow que ele pode não estar morto, mas ele também não estava vivo. E eu tendo a concordar. Até aquele momento, eu acompanhei uma história que não tinha muito objetivo além de arrastar os personagens de um lado pra outro, apresentar deuses de diversos panteões, mas não dar um destino real para a trama.

Isso foi responsabilidade do terço final, que eu acabei achando meio corrido para tentar dar um norte para tudo o que (não) aconteceu ao longo do começo do livro. Tem muita informação e revelação, finalmente um desenvolvimento real para Shadow, mas um final muito fraco para o que seria o Armaggedon divino. Gostei mais do final “mundano” para um mistério que é quase irrelevante, mas fica muito mais interessante nas últimas 20-30 páginas do livro.

Fora isso, Neil Gaiman intercala diversos capítulos que contam a história de como os deuses saíram de seus territórios originais e foram parar na América. Um capítulo em especial eu achei bastante corajoso pela temática LGBTQ envolvida que além de tudo é misturada com a religião muçulmana.

Acho que só lá pro final mesmo que eu tive um vislumbre do que eu esperava na leitura, inclusive postei a frase que me chamou a atenção no Instagram. Mas mesmo assim, acho que talvez eu estivesse esperando demais do livro.

Fiquei com vontade de ler Os Filhos de Anansi, porque o deus aparece aqui e é um personagem interessante. Talvez procure em uma próxima oportunidade. Ou talvez eu possa ir atrás do encadernados de Sandman e procurar toda a questão filosófica que eu queria ter lido em Deuses Americanos. Só preciso fazer uma poupancinha…


Não sei se vocês sabem, mas vai sair uma série de Deuses Americanos e já tem trailer!

Não sei se vocês sabem 2, Neil Gaiman fez um documentário falando sobre o processo de criar Deuses Americanos e esse aqui é um teaser.


Até a próxima! o/

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