resenha

O Feiticeiro de Terramar – Ursula K. Le Guin

7 nov 2016
Informações

o feiticeiro de terramar

ursula k. le guin

arqueiro

série ciclo de terramar #1

176 páginas | 2016

3.5

Design 3.5

História 3.5

Há quem diga que o feiticeiro mais poderoso de todos os tempos é um homem chamado Gavião. Este livro narra as aventuras de Ged, o menino que um dia se tornará essa lenda.

Ainda pequeno, o pastor órfão de mãe descobriu seus poderes e foi para uma escola de magos. Porém, deslumbrado com tudo o que a magia podia lhe proporcionar, Ged foi logo dominado pelo orgulho e a impaciência e, sem querer, libertou um grande mal, um monstro assustador que o levou a uma cruzada mortal pelos mares solitários.

Publicado originalmente em 1968, O feiticeiro de Terramar se tornou um clássico da literatura de fantasia. Ged é um predecessor em magia e rebeldia de Harry Potter. E Ursula K. Le Guin é uma referência para escritores do gênero como Patrick Rothfuss, Joe Abercrombie e Neil Gaiman.

Design

Você sabe que sou fã de livros de fantasia que tenham ilustração na capa. Acho até que é muito mais fácil de você identificar um livro do gênero se você tiver uma ilustração bem bonita, além das fontes mais romanas nos títulos.

Mas eu gostaria de pedir desculpas para a ilustradora SulaMoon, porque não gostei da arte da capa de O Feiticeiro de Terramar. A sensação que passa é de um speed painting feito às pressas e que não teve refinamento e acabamento final para ser inserido como arte. Se você entrar no Deviantart da ilustradora, vai perceber que ela é capaz de criar ilustrações muito mais definidas e acabadas, o que mostra que a arte do livro não faz juz ao seu trabalho.

Acho que falta definição em vários elementos do desenho, e que o padrão cromático é muito “mortinho” para uma cena que mostra o encontro de Ged com um dragão. Não me comprou, infelizmente, o que é uma pena.

Fora isso, eu gosto do lettering do título e do nome da autora, de ter o nome da série na capa, e o número do volume na lombada! \o

Uma (outra) tristeza que eu tive com o livro é em relação ao mapa. Sim! Nós temos um mapa, o que é muito amor em se tratando de um livro de fantasia. O problema é que a maior parte da história de Ged acontece nas ilhas do centro do mapa, e o centro do mapa, como vocês podem muito bem supor, fica na dobra do livro… Ou seja, ou você esgarça o bichinho para tentar ver a ilustração no meio e encontrar os lugares onde Ged está passando, ou você deixa para lá e segue assim mesmo.

Eu adoro quando existe um mapa nos livros, mas acho que as editoras ainda não conseguiram uma forma adequada de apresentar a ilustração para o leitor. No dia que for um encarte, ou impresso no verso da capa e na falsa folha de rosto, talvez estejamos caminhando para um melhor consumo desse tipo de carinho do autor e da editora.

De resto, o miolo é o que a Arqueiro costuma utilizar em seus projetos gráficos, simples e correto.


História

Acho que se eu nunca tivesse tido contato com histórias de fantasia, e fosse uma jovem Samara na fase dos 10 a 14 anos, O Feiticeiro de Terramar seria uma forma maravilhosa de conhecer o gênero.

Principalmente se fosse um contato pré Harry Potter ou Percy Jackson, por exemplo, que são um tipo de fantasia mais contemporânea.

O Feiticeiro de Terramar tem tudo o que se esperaria de uma história de high fantasy, mas de certa forma condensado para um público mais jovem, que não precisa ser impactado por grandes guerras, um inimigo “invencível” ou tramas políticas. O único desafio aqui é passar pelas primeiras páginas e aguentar Ged|Gavião.

Ursula K. Le guin construiu uma história que seria bem aceita em 1969, seguindo o que se espera de um personagem heróico. Ele é um rapaz, que vai se relacionar com outros meninos e homens em uma escola de magos, e praticamente não vai ver nenhuma mulher ao longo dos 5 ou 6 anos pelos quais a história se desenrola. E as mulheres que por acaso ele encontra, vão ser algum tipo de obstáculo no seu caminho como mago…

O jovem Dunny nasceu em Gont, uma das milhares de ilhas que formam Terramar. De Gont vieram grandes magos e Dunny desde cedo mostra habilidade com feitiçaria. Depois de defender sua vila do ataque de bárbaros, Dunny recebe seu verdadeiro nome do mago de Ogion, que vive do outro lado da ilha de Gont. A partir desse momento, o jovem Ged passa a ser um aprendiz de feiticeiro.

Mas todo mundo sabe que jovens aprendizes não tem a qualidade da paciência e contemplação que os adultos têm, e não conseguem entender o porquê de não poderem aprender agora todos os segredos da magia e do universo. Pois é, Ged não foge a regra.

O problema para mim é que Ged apesar de ser o protagonista, é também a fonte de exemplo para o leitor. Quando é enviado por Ogion para a escola de magos que fica na ilha de Roke, Ged se mostra um aprendiz voraz, mas ao mesmo tempo é orgulhoso, invejoso e agressivo com alguns de seus colegas. Sem nunca ter sido diretamente provocado, Ged define que Jaspe, um outro aprendiz um pouco mais velho, é seu nêmesis na escola, e qualquer interação dos dois é sempre vista por Ged como um desafio para seu conhecimento e poder.

i hate you

Os dias na escola se passam para aprender novos conhecimentos e para odiar Jaspe. O que na maior parte do tempo me fez odiar Ged por sua mente limitada e sua inveja descabida. Ok, que a proposta do livro é você acompanhar toda a redenção que Ged vai ter que alcançar ao longo de sua história, mas a autora poderia ter feito com que ele ficasse menos insuportável. Porque não é natural ou normal você tomar ódio de outra pessoa sem nunca ter sido provocado ou estimulado a isso. Na forma como Ursula constrói o relacionamento dos dois, todo o desdém que Ged vê na forma como Jaspe o trata está dentro da própria cabeça do menino.

Bem, Ged não vai poder ter sua redenção se não fizer uma bostona gigante, não é mesmo? Depois de alguns anos estudando na escola de Roke, Ged decide impressionar Jaspe e seus amigos, mostrando como ele é um prodígio como há muito tempo não é visto na escola. Durante uma magia mal feita, ela acaba libertando em Terramar uma sombra incontrolável, que fica ligada a Ged, e o deixa inseguro, relativamente fraco e cheio de cicatrizes.

Ged passa a ter medo de utilizar os seus poderes, uma vez que ele já trouxe a desgraça uma vez para si mesmo, mas consegue terminar o seu treinamento em Roke. O “diretor” da escola percebe que não pode manter Ged protegido para sempre, e ele é enviado para ser o mago de um pequeno conjunto de ilhas que precisa de sua ajuda e conhecimentos.

dumbledore - we must all face choice between what right what easy

O interessante do resto da história de Ged é que ele passa por sub-plots que mostram o quanto ele ainda é poderoso, apesar do medo que tem da sombra que libertou no mundo. Ged sabe que será perseguido por ela sempre que a sombra perceber onde está, e ele precisa tomar uma decisão, ser a caça ou se tornar o caçador.

O Feiticeiro de Terramar, mais do que uma história de fantasia com uma luta entre o bem e o mal, é uma história de descobrimento pessoal, de evolução e amadurecimento. A gente acompanha Ged desde os seus insuportáveis 12 anos de idade, até os 19 quando ele já é um mago formado e com muito mais conhecimento e bagagem, e muito mais palatável em suas dúvidas e inseguranças.

O interessante também é que, apesar de Ursula retratar as mulheres de uma forma como “corrompedoras” do caminho do herói, ela conseguiu inserir personagens que fogem um pouco do estereótipo ideal do herói branco-europeu. Ged é descrito como um jovem moreno de pele dourada, enquanto seu melhor amigo, Vetch, é negro. Se você pensar que o livro foi lançado originalmente em 1969, é uma baita quebra de paradigmas no gênero de fantasia que até hoje, ainda se desenvolve sem um protagonismo mais inclusivo.

Fora meu problema inicial com Ged, acho que a história é bem leve e rápida de acompanhar, realmente voltada para um público jovem, praticamente infanto-juvenil, e tem uma mensagem bem interessante no final, de amizade e de autoconhecimento que é muito legal de se passar para o pessoalzinho dessa faixa etária.

Ah, sim. Uma coisa que é um pouco complicada é a quantidade de menção às diversas ilhas que fazem parte de Terramar, sem ter um embasamento maior para o leitor. É maravilhoso ter o mapa no início do livro, porque você consegue acompanhar perfeitamente o deslocamento de Ged ao longo da história, mas ainda é estranho a autora cuspir várias ilhas só como menção e não acrescenta realmente nada à história.

Lerei os próximos quando sair, mais na esperança que a autora inclua ainda mais diversidade nas histórias, e que dê um papel de maior valor e qualidade também para as mulheres de Terramar.


Até a próxima! o/

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