resenha

Os Bons Segredos – Sarah Dessen

7 jul 2016
Informações

os bons segredos

sarah dessen

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série ---

408 páginas | 2015

3.75

Design 4

História 3.5

Há segredos muito bons para serem guardados — e livros muito bons para serem esquecidos Sydney sempre viveu à sombra do irmão mais velho, o queridinho da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paraplégico, e vai parar na prisão. Sem a referência do irmão, a garota muda de escola e passa a questionar seu papel dentro da família e no mundo. Então ela conhece os Chatham. Inserida no círculo caótico e acolhedor dessa família, Sydney pela primeira vez encontra pessoas que finalmente parecem enxergá-la de verdade. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, Os bons segredos conta a história de uma garota que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho.

Design

Vocês provavelmente já me viram reclamar quando o nome do autor tem um peso muito maior em uma capa do que o próprio título do livro. Mas para tudo tem sempre uma primeira vez, não é mesmo? XD Não sei se foi a fonte sans-serif em caixa alta e em branco sobre a imagem. Ou talvez o fato de o nome da Sarah estar praticamente sangrando nas bordas da capa. Só sei que eu gostei MUITO do peso, do tamanho, do conjunto do nome gigante e o projeto da capa.

Em contrapartida a fonte do título não me agradou. =/ Acho que dificulta a leitura esse efeito que aplicaram (ou se é um estilo próprio da fonte), que parece que foi escrito com um pincel e tinta falhada.

Depois do título da autora, o que eu achei mais interessante foi a imagem de fundo, do carrossel com os cavalinhos fugindo. É uma representação de um cenário que existe no livro e importante para os personagens, apesar de que o contexto na capa não representa o carrossel decadente perdido no meio de uma clareira na floresta. O legal é que, para mim, os cavalos fujões meio que representam os bons segredos do título. Como se, quando os segredos são positivos, eles não precisam ficar presos no ciclo interno dentro de você. Eles precisam de liberdade…

A imagem do carrossel invade a lombada, mas a quarta capa é daquelas que de certa forma rompe todo o projeto fotográfico iniciado na capa. Uma chapada de amarelo “bebê”, o mesmo tom do título, dá uma nova proposta mas mantém a ligação com o cavalinho solitário no final da sinopse. Uma coisa boa é que, fora a fonte estranha do título, todas as áreas de texto da capa, inclusive as orelhas, são na mesma família sans-serif, que se você me pedisse para chutar, eu diria que é futura.

Esse é um miolo muito simples. Acho que a principal característica do projeto são as margens extremamente arejadas. Em um livro com as dimensões de Os Bons Segredos, a mancha gráfica ficou até pequena por conta das margens. É elegante, a quantidade de branco até fica legal, mas ao mesmo tempo aumenta o volume total de páginas. Para variar não tem cabeçalho, a fonte é um pouco grande, mas balanceia um pouco com a entrelinha que acrescenta mais espaçamentos. É um miolo correto, que eu não desgosto, mas sinto falta de detalhamentos.


História

Sarah Dessen e eu não tivemos uma primeira experiência muito boa em A Caminho do Verão. Na época eu não consegui curtir os personagens ou ser envolvida pela história.

Alguns anos depois, estou novamente com um livro da Dessen na mão e tive certo receio de que fosse ser a mesma experiência. Principalmente porque comecei a ver um certo padrão se repetindo aqui. Pais extremamente problemáticos, um irmão mais velho com privilégios e uma personagem principal invisível.

Uma coisa eu não posso negar, a autora escreve bem. Ela consegue fazer com que a voz que você ouve enquanto lê a história pareça realmente com a de uma adolescente. Mas o começo de Os Bons Segredos foi complicado.

Sydney sempre viveu à sombra do irmão mais velho, se acostumando a ser invisível dentro da própria casa. Em boa parte por culpa da mãe que obviamente tem uma preferência pelo filho e por uma certa ausência do pai. Dessen conseguiu construir uma família que eu realmente tinha pena da personagem por ter que viver nela. A mãe de Sydney foi uma das piores, angustiantes e irritantes experiências de leitura do ano. Toda sua loucura e compulsão com o filho mais velho criou em Sydney a incapacidade de se expor e se impor. Ela tem baixa auto-estima por viver à sombra do pedestal que Peyton tem só para si.

Passei boa parte do livro simplesmente com raiva da mãe, do pai e de Peyton. Tudo girava em torno do irmão de Sydney, e a jovem conseguiu mostrar o quanto o irmão foi de um futuro estelar para uma trajetória decadente até a noite em que atropelou um menino e o deixou paraplégico.

Peyton vai para a cadeia, mas a ausência dele dentro de casa é ainda mais pesada do que se ele tivesse morrido. E a mãe de Sydney transforma esse período de prisão de Peyton em uma ida para um “acampamento de verão”. Ela simplesmente não aceita que o filho perfeito errou MUITO, e quer continuar a manter o controle como se ele estivesse em um colégio interno, e não na prisão! o.O

Enquanto isso, Sydney decide começar de novo e muda de escola, para se livrar da sombra do irmão e principalmente por conta dos gastos que a família teve com todo o processo de condenação de Peyton. Seus pais nunca tiveram problemas com dinheiro, mas pagar advogados e o julgamento foi puxado. Mas alguém reconhece seu esforço ou sua preocupação? ¬¬ E é nessa nova escola, com uma nova rotina, que Sydney finalmente vai fazer novos amigos, que realmente a enxergam como ela mesma, além da sombra de Peyton.

Um dos conceitos mais interessantes que eu pesquei ao longo do livro é que nós não somos iguais. Somos todos indivíduos, e isso obviamente nos torna diferentes em nossas idiossincrasias, em nossas individualidades. A mãe louca de Sydney simplesmente coloca na filha a mesma carapaça que ela enxergou no filho delinquente, e cobra dela uma gama de coisas que deveria ter cobrado de Peyton enquanto ainda podia. Para ela, se o filho mais velho teve diversos deslizes até atropelar uma pessoa, OBVIAMENTE, Sydney VAI FAZER IGUAL!

Exatamente! A Sydney que sempre foi a filha perfeita, nunca faltou a escola, nem quando ficava doente, nunca fez nada errado, nunca fez xixi fora do pote, e por conta de um deslize, precisa pagar como se fosse o equivalente do pior erro de seu irmão. Seu mundo é simplesmente retirado do seu controle por uma mãe que não tem a CAPACIDADE DE OUVIR ou conversar, sem impor a sua vontade. Sério, enlouquecendo de raiva aqui só de lembrar dos diálogos das duas.

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E eu nem consigo dizer que Sydney deveria se impor mais, bater de frente com a mãe, mostrar que nunca fez nada de errado, simplesmente porque ela não consegue! Ela não foi criada assim, ela era invisível até mesmo para sua família. Como ela iria contrariar sua mãe? Uma mãe que nem acredita nela quando diz que não se sente à vontade com um amigo (abusado) do irmão, que passa a ser presença constante em sua casa. Como assim, você não dá ouvidos à sua filha, que nunca reclama de nada, quando ela diz que o cara é bizarro e incomoda? Como assim, você prefere deixar sua filha com um homem praticamente estranho na sua casa, sozinhos para passar a noite, do que permitir que ela vá ficar na casa de uma amiga?! O.O

Fora esses sentimentos de raiva e angústia, e de achar que a história é bem contada e desenvolve bem, não sei se consegui ir além da simpatia com todos os personagens. Acho que Layla, uma amiga da nova escola cheia de manias com batatas fritas, seria quem mais me marcou, mas mesmo assim, o relacionamento das duas me passa a sensação de um pouco leve e superficial. Tudo bem que Layla vai socorrer Sydney em um momento bi-zar-ro que a própria mãe da menina criou. Essa disponibilidade e certo carinho entre os amigos de Sydney faz com que as situações se tornem interessantes e envolventes, tanto até que eu não consegui largar o livro até chegar ao final. Mas se fosse só pelos personagens, nem tanto.

Acho que houveram pequenas coisas que me incomodaram ao longo da leitura. Algumas decisões que Layla toma, como escolher o cara errado para namorar; opiniões de Sydney, que chegam a ser um tanto preconceituosas. A forma como ela descreve Layla em seu primeiro encontro com a garota beira ao slut shame. E fica parecendo que ela só se apaixona por Mac, irmão mais velho de Layla, porque ele é lindo como um astro de música pop. Quando ela descobre que ele era muito gordo há poucos meses atrás, Sydney fica se questionando como ele pode ter ficado tão bonito emagrecendo. Como se quando era gordo, Mac não poderia nunca ser um interesse romântico. De ninguém.

Os Bons Segredos foi melhor do que A Caminho do Verão, mas eu tenho quase certeza que Sarah Dessen e eu não fomos feitas uma para a outra. Ou então eu não estou mais tão disponível para YAs contemporâneos de slices of riches girls problems lifes. ¯\_(ツ)_/¯

A leitura do livro de Sarah Dessen foi um convite da Lygia do Brincando com Livros. <3


Até a próxima! o/

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