resenha

Simon vs a agenda homo sapiens – Becky Albertalli

15 abr 2016
Informações

simon vs a agenda homo sapiens

becky albertalli

intrínseca

série ---

272 páginas | 2016

3.75

Design 3.5

História 4

Simon tem dezesseis anos e é gay, mas ninguém sabe. Sair ou não do armário é um drama que ele prefere deixar para depois. Tudo muda quando Martin, o bobão da escola, descobre uma troca de e-mails entre Simon e um garoto misterioso que se identifica como Blue e que a cada dia faz o coração de Simon bater mais forte.

Martin começa a chantageá-lo, e, se Simon não ceder, seu segredo cairá na boca de todos. Pior: sua relação com Blue poderá chegar ao fim, antes mesmo de começar.

Agora, o adolescente avesso a mudanças precisará encontrar uma forma de sair de sua zona de conforto e dar uma chance à felicidade ao lado do menino mais confuso e encantador que ele já conheceu.

Uma história que trata com naturalidade e bom humor de questões delicadas, explorando a difícil tarefa que é amadurecer e as mudanças e os dilemas pelos quais todos nós, adolescentes ou não, precisamos enfrentar para nos encontrarmos.

Design

Não sei bem se gosto ou não da capa de Simon vs a agenda homo sapiens… sentimentos contraditórios passando por aqui hoje. A capa não é original da Intrínseca, mas uma adaptação da original. Nenhum problema com isso. Quando a capa é muito boa não vejo problema nenhum em licenciar a arte e trazer para cá. Mas ainda não sei.

Obviamente é uma capa com presença. Esse fundo vermelho, com a textura grunge em preto, e esse balão de diálogo gigante onde se encontra o título chama muito a atenção. Tanto até que o menino sem cabeça fica em total segundo plano de foco perto dos outros elementos (pelo menos para mim). Então, sim, é uma capa impactante, e faz jus a um livro contemporâneo de YA fugindo um pouco das capas tipográficas. Gosto dessas letras rebuscadas/rabiscadas como uma escrita nervosa no título e no nome da autora. Mas sinto falta de uma sinopse tradicional na quarta capa, mesmo tendo Oreos para ilustrar e ser um elemento da história.

Em se tratando de Intrínseca eu achei o miolo um pouco simples. Ok que temos aberturas de capítulo com o balão de diálogo com o número dentro, uma fonte agradável e de boa legibilidade e um projeto diferenciado para os capítulos de troca de e-mails. Mas não tem cabeçalho nas páginas e, desculpe, continuo achando simples. Outra consideração que eu tenho tem a ver exatamente com os e-mails. Eu achei muito estranho que a data de envio viesse fechando o corpo do e-mail. Muitas vezes eu ficava achando que o texto <ENVIADO 10 JAN 14:12> estava “abrindo” o e-mail que vinha em sequência, e eu ficava meio confusa nas datas… Não sei qual serviço de e-mail vocês usam, mas no Gmail a data/hora ficam junto do cabeçalho de envio do e-mail, porque é tudo uma informação só. =/


História

Simon quase não teve muita sorte comigo. Ele caiu na minha mão em um momento que eu definitivamente não estava pronta para ler.

Não me entendam mal. Simon vs. a agenda homo sapiens é um delicioso e fofo coming of age, com o “agravante” (será que agravante é a palavra certa aqui? O.o) de que nosso protagonista é gay. Tinha tudo para ser uma história de adolescente sofredor, mas não é o que o livro nos conta (ainda bem).

Acho que é o primeiro YA LGBT que leio, e não, não foi esse o problema. Sim, provavelmente um livro com um protagonista homossexual não seria uma das minhas primeiras escolhas de leitura, porque não reflete minha realidade. Mas eu queria enxergar uma história por um ponto de vista com o qual não estou acostumada. Eu queria um rapaz contando sua história, para variar. E esse também não foi o problema. Estou usando a palavra problema aqui, mas é só para contextualizar, e sim estou enchendo de panos quentes.

Quando peguei Simon para ler não era bem esse tipo de história que eu realmente estava querendo. Acho que eu estava com vontade de uma fantasia. Talvez ainda estivesse sofrendo um pouco com a decepção de A Espada de Shannara e precisava de alguma coisa para tirar o “gosto ruim”, e essa história não foi Simon. Tanto até que quando percebi que não estava fluindo, que eu não estava realmente aproveitando a adolescência e os “sofrimentos” de Simon, eu coloquei de lado e fui procurar outras leituras. Não queria prejudicar a história porque o meu cérebro não estava sintonizado em YA no momento.

Por isso demorei tanto tempo para terminar um livro de menos de 300 páginas. Eu não queria estragar a imersão. Queria que Simon tivesse a oportunidade justa de ser o livro certo.  E foi a melhor decisão que tive para não prejudicar a história. Porque quando ele foi o livro certo, eu terminei praticamente em um dia o que faltava ler (ele é uma leitura de um dia, um dia para outro).

Enfim, isso posto, livros YA contemporâneos sempre me lembram do ensino médio e da minha adolescência e como ela foi uma merda. Felizmente, para Simon, os corredores da escola não são uma merda. De certa forma, ele é privilegiado. Não faz parte dos bullys nem dos alunos que sofrem com isso. Ele está ali, com seu grupo de amigos de certa forma descolado. Os jogadores de futebol americano, a líder de torcida, a amiga inteligente e meio nerd.

O único “problema” (com MILHÕES de aspas aqui) é que Simon é gay, não assumido. E para ele, de certa forma, o momento de Sair do Armário pode estar se aproximando, não porque seja uma decisão dele, mas porque um colega descobriu que Simon troca e-mails com um correspondente anônimo chamado Blue, que também é gay. Martin, o colega bisbilhoteiro, acaba usando o conhecimento secreto que tem para chantagear Simon para que ele o ajude a se aproximar de Abby, uma de suas melhores amigas. E assim começa (ou termina) mais um dia no colégio.

O livro acompanha a vida de Simon de duas formas: no seu dia a dia na escola, com amigos e com sua família; e na troca de e-mails com Blue, onde ele se permite ser (ainda) mais autêntico ao trocar confidências com um “igual”.

Simon é muito divertido, sua voz é deliciosa de acompanhar. Ele tem ótimos diálogos com seus pais e suas irmãs, e várias sacações e pensamentos solitários tão legais quanto. O momento em que ele analisa o quanto cerveja é uma bebida superestimada pelos adolescentes me arrancou algumas risadas. Acompanhar sua angústia em ter que lidar com a chantagem de Martin, de forma a proteger seu relacionamento com Blue é bem envolvente, porque o rapaz se torna uma presença constante e não necessariamente bem vinda no círculo de amigos de Simon.

Tomo um gole de cerveja e acho… Ah, é incrivelmente nojento. Acho que eu não esperava que tivesse gosto de sorvete, mas pelo amor de Deus. As pessoas mentem e fazem identidade falsa e entram escondidas em bares para isso? (p45)

Outra coisa que gostei bastante foi o “mistério” de quem é Blue. Simon vive um certo conflito de tentar descobrir quem é o seu colega de escola que pode ser seu misterioso correspondente; ao mesmo tempo que não quer saber quem é, com medo de perder o relacionamento digital que construiu. Ver como a troca de e-mails mexe com seus sentimentos e faz com que Simon comece a se apaixonar pelos textos, por uma pessoa idealizada, é super fofo, e poderia acontecer com qualquer um. Ser entre dois rapazes é apenas um detalhe.

Durante a leitura me vi torcendo para que Simon realmente descobrisse quem era Blue. Eu queria que eles se encontrassem, que fosse amor à primeira vista. Eu queria o romance! <3 E por mais que Simon passe por alguns perrengues tentando descobrir, e outros ainda no seu relacionamento com seus amigos mais próximos, por ter que decidir ou não se conta sobre sua homossexualidade, o livro é um HEA no fim das contas. Você sabe pelo ritmo, pelo estilo e pela voz de Simon que tudo vai acabar bem.

Os personagens coadjuvantes, sejam a família ou os amigos de Simon, são maravilhosamente construídos e tem um espaço importante e bem desenvolvido nos dias do rapaz. Todos os amigos, sejam os do círculo principal, sejam os das aulas de teatro, são todos legais, e Simon não “demoniza” praticamente ninguém do seu relacionamento. A não ser Martin, mas aí a gente releva. :P

Não tenho como quantificar, ou realmente saber, o quanto é sofrido para uma pessoa ter que Sair do Armário (com letras maiúsculas como Simon e Blue usam em seus e-mails), mas a autora consegue passar essa aflição durante o livro. E olha, é de encher os olhos de lágrimas em uma passagem específica, quando a chantagem perde controle e Simon é realmente afetado pela “realidade”.

Apesar de ter demorado a dar o valor que o livro merecia, a metade final da minha leitura foi extremamente gratificante, rápida e deliciosa. Recomendo muito a leitura, não só para se aproximar da questão de um livro LGBT, mas porque Simon é muito divertido e vale a pena conhecer sua história.


Até a próxima! o/

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