resenha

Onde o Amor se Esconde – Veridiana Maenaka

3 nov 2015
Informações

onde o amor se esconde

veridiana maenaka

verus

série ---

350 páginas | 2015

4

Design 3.5

História 4.5

Até que ponto uma mulher pode se deixar levar pelo desejo? Na São Paulo do início do século XX, a jovem Glória sonha com o amor, ao contrário de sua amiga Marisa, cujo desejo é viver tão livremente quanto os homens. Glória, de família tradicional, se casa com o homem escolhido por seu pai. Rico e ambicioso, porém emocionalmente distante, esse homem vê na esposa apenas uma prova de sua ascensão social. Incapaz de dar um herdeiro ao marido, Glória vive uma rotina de violência crescente, enquanto Marisa se casa com o pretendente que escolheu, um notório libertino. A infelicidade de Glória a torna suscetível à sedução de outro homem, e eles têm um encontro avassalador, marcado pela descoberta sexual da jovem. Envolvida em uma trama de luxúria, Glória pode conhecer um prazer jamais imaginado, mas será essa a sua chance de viver um grande amor? Brilhantemente narrado e com um estilo inconfundível, Onde o amor se esconde é uma história ousada, sedutora e perturbadora sobre as escolhas que fazemos e aquelas que não podemos fazer.

Design

Sinceramente eu achei a capa de Onde o Amor se Esconde meio fraca. Entre um universo de romances de época que você encontra hoje em dia na livraria, não acredito que ela se destaque em comparação com as outras. A imagem da moça escondida atrás do tecido deveria ser um ponto forte e de atenção para o leitor, mas ela é quase da mesma cor do resto da composição gráfica, então acaba meio perdida na arte como um todo.

De certa forma o foco de cor e atenção fica a cargo da fonte caligráfica do título em vermelho, e a logo da Verus. São os únicos pontos mais chamativos em uma arte quase uniforme. O que de certa forma é uma pena. Sempre acho que esses romances históricos podem ter a liberdade de colocar belas mulheres em vestidos de época desbundantes na capa. =/

O miolo é o relativamente “básico” dos livros do grupo Record. A diferença aqui são as páginas de aberturas de partes do livro. Nelas existe um tratamento tipográfico um pouco mais cuidadoso. Mas os outros elementos do miolo tem as mesmas características que eu costumo comentar/reclamar nos livros do grupo. Fonte grande, mancha muito aberta, problemas de impressão, falta de cabeçalho nas páginas…


História

Nossa, Onde o Amor se Esconde começa de um jeito que ou te prende ou te assusta e te afasta da leitura. Sério, quando li a sinopse, falando sobre “Glória vive uma rotina de violência crescente” nunca imaginei que a autora iria realmente tratar de abuso doméstico da forma como ela desenvolveu. Agressões verbais e físicas, tortura, cárcere privado e estupro. Tudo isso praticado pelo marido de Glória, o homem escolhido por seu pai para ser o “companheiro” da sua vida.

O livro é dividido em três partes, cada uma tratando de um momento da vida e das escolhas feitas por Glória. Na primeira ela é uma jovem de 17 e 20 anos, que ao mesmo tempo narra seu cativeiro e os anos que precederam o momento que vive o “presente”. A forma como a autora usou para a cada começo de capítulo mostrar o que Glória estava sofrendo por seu agressor/marido, e nas páginas seguintes contextualizar o passado foi muito interessante e envolvente. Ela desenvolve a narrativa dessa forma até o momento em que Glória é presa pelo marido, e a partir daí, a história é só o “presente” até o final.

Achei que talvez não fosse aguentar passar por toda a sessão de tortura e agressão verbal junto com Glória, mas a forma que Maenaka construiu a narrativa foi tão envolvente que eu precisava saber como ela conseguiria se salvar. Estava tão angustiada que até “perdoaria” um deus ex machina para resolver a situação da jovem.

Na segunda e na terceira partes já é uma Glória mais adulta e madura, depois de (quase não) sobreviver ao seu relacionamento com Erasmo, e se descobrindo uma mulher com desejos e vontades “carnais”, e o quanto esses desejos podem fazê-la encontrar a felicidade e a perdição ao mesmo tempo.

Maenaka cria diferentes momentos de tensão ao longo da história: o terror do cárcere e da tortura, a descoberta da paixão e do sexo, e por último a busca pelo verdadeiro amor. E a autora não se esquiva em ser descritiva, tanto na parte da violência quanto nas cenas de sexo.

Eu gostei bastante da forma como os personagens são construídos (e descontruídos) ao longo da história. O relacionamento com Erasmo (o marido controlador e maníaco) e a tentativa de Glória em se enquadrar e falhar miseravelmente. A amizade de infância com Marisa, que de constante vira doentia. E também os outros homens que surgem na história para se envolver com Glória, Fernando e Marcelo.

Tive um relacionamento estranho com Fernando, porque ao mesmo tempo que ele parece ser um cafajeste e canalha, só interessado em sexo “fácil”, ele é realmente romântico e dedicado a proporcionar prazer à Glória. Então eu torcia para que eles ficassem juntos ao mesmo tempo que ficava “abre o olho, Glória!”.

Quanto a Marcelo, ele é um personagem previsível, desde o primeiro momento que apareceu na história, mas gosto muito da sua presença e participação. <3

A autora talvez tenha apelado um pouco no final da terceira parte, para a resolução de um dilema em que Glória se encontra, mas ao mesmo tempo, Maenaka conseguiu criar uma solução para um ponta solta deixada na primeira parte da história de forma convincente, e que eu não tinha previsto.

Fora um certo “incômodo” com a necessidade de usar um vocabulário e certas construções verbais que emulassem um Brasil do início do século XX, eu gostei bastante do estilo da autora. Entretanto, da forma como ela escreveu e descreveu a história não faria muita diferença se ela se passasse aqui, nos EUA ou na França. Quase não há uma real ambientação de local, fora a menção de um ou outro bairro ou rua de São Paulo. Como não conheço quase nada da cidade, não fez muita diferença para mim.

De qualquer forma, o livro é muito mais voltado para o character building, com o desenvolvimento de cada um dos personagens que interagem com Glória, muito mais do que realmente construir o ambiente em que a história se passa.

Mas foi bom conhecer uma autora brasileira que se saiu bem escrevendo um gênero literário que me cativou. Provavelmente lerei outros livros dela se eles pintarem por aí. ^.~


Até a próxima! o/

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