resenha

O Mapa de Vidro – S.E. Grove

5 nov 2015
Informações

o mapa de vidro

s.e. grove

verus

série mapmakers #1

396 páginas | 2015

3.5

Design 3.5

História 3.5

Ela conhecia o mundo somente por meio de mapas. E não tinha ideia de que eles poderiam ser tão perigosos. Boston, 1891. Sophia Tims vem de uma família de grandes cartógrafos. Desde a Grande Ruptura em 1779, quando todos os continentes foram lançados a uma era diferente – da pré-história a um futuro distante – esses exploradores viajam e mapeiam o que é conhecido como Novo Mundo. Há oito anos, desde que seus pais não retornaram de uma missão urgente, ela vive com seu tio Shadrack, o melhor cartógrafo em Boston. A vida com seu brilhante, adorado e distraído tio, ensinou Sophia a cuidar de si mesma. Quando Shadrack é sequestrado por pessoas que estão atrás de um poderoso artefato, ela é a única que pode salvá-lo. Ao lado de Theo, um refugiado do oeste, ela embarca em uma aventura por cidades secretas e mares desconhecidos baseando-se apenas nos mapas deixados por seu tio e sua intuição. O que Sophia e Theo não sabem é que suas próprias vidas estão em perigo quando se descobrem segredos há muito enterrados. O mapa de vidro vai fazer você mergulhar em um mundo de fantasia autêntico e intrigante, com uma heroína que vai ganhar o seu coração.

Design

A capa de O Mapa de Vidro não tem uma capa original, mas a adaptação ficou bem legal. Eu gosto bastante da arte do fundo da capa, com as silhuetas dos Homens de Areia e da mulher com o véu, e que também mostra os principais meios de locomoção de Sophia e Theo. Acho que o título e essa rosa dos ventos (com cara de bússola) competem um pouco demais por atenção no centro da capa, talvez se ela fosse um pouco menor me incomodasse menos. De acabamentos especiais temos verniz localizado no título, no nome da autora e no selo da editora.

Fiquei muito feliz ao perceber que o projeto contempla no número do volume não só na capa mas também na lombada! Minha estante agradece. Na quarta-capa temos a sinopse completa em um box diferenciado que parece uma página de diário de couro, daqueles que tem fechos dourados para proteger o conteúdo.

O miolo de O Mapa de Vidro foi mais interessante em comparação com outros livros da Verus que já li. Logo no início, antes da folha de rosto, existem três artes de mapas, em um papel mais diferenciado mais grosso. Eu curti bastante a arte dos mapas, tem cara daqueles antigos, que marcavam os locais desconhecidos com monstros mitológicos. Tipo esse aqui embaixo.

Old map

Espliego.com

O miolo em si é um dos primeiros do grupo Record que eu notei um pouco de diferença tanto na qualidade de impressão quanto no trabalho gráfico em si, mas algumas coisas me incomodaram. Além do fato das páginas não possuírem cabeçalho título/autor, existe uma arte no rodapé que me confundia sempre que meus olhos chegavam ao fim da coluna de texto. Os números de páginas estão contidos entre duas grossas linhas rebuscadas, e sempre que eu batia os olhos nessas linhas eu achava que era um fechamento do conteúdo sendo tratado naquele capítulo. Então a sensação sempre era de que na próxima página começaria um novo direcionamento e nunca era isso. Até pegar o jeito levou algumas páginas, e eu sempre tinha que reacostumar quando ficava muito tempo sem pegar no livro.

Mas vamos falar de coisas boas do miolo! As aberturas do capítulo estavam bem trabalhadas, com o número do capítulo e um grafismo na área do seu nome. Além disso, sempre há um trecho de algum livro do universo do Novo Mundo, escrito por um dos personagens, contextualizando o assunto que vai ser construído no capítulo. Esse trecho tem uma fonte diferenciada para parecer manuscrita e uma ilustração/box simulando um pedaço de papel rasgado.

Para terminar, as aberturas das partes do livro são bem minimalista, mas com o mesmo estilo das aberturas de capítulo. Nelas vem o número da parte, o título e grafismos rebuscados.


História

Acho que O Mapa de Vidro acabou vítima do meu monstro da expectativa. Grande parte da culpa é de um quote que aparece na quarta-capa, dizendo que desde A Bússula de Ouro não se via uma construção de universo tão interessante (ou algo nesse sentido). Assim, não se coloca uma comparação com o livro de Philip Pullman de graça. E fazer isso, para mim, é dar muito valor para a história.

boromir_meme

A trilogia Fronteira do Universo é, sem sombra de dúvida, a história mais marcante e importante da minha vida. Sabem aqueles Top 10 melhores livros da vida? As três primeiras posições estão ocupadas pelos livros de Philip Pullman. Desculpem fãs de Harry Potter, e até mesmo do meu amado Percy Jackson, mas Lyra e Will representam muito mais para mim.

Então, não tem muito jeito, o monstro estava à espreita, aguardando para ver se O Mapa de Vidro era realmente tão legal quanto A Bússula de Ouro. E bem… meu monstro ficou um pouco decepcionado.

Não foi nem pelos personagens em si. Sophia e Theo são crianças interessantes, relativamente especiais, mas não tão independentes quanto Lyra ou Will eram. O relacionamento de Sophia e Theo com os adultos é muito mais dependente e, de certa forma, se não houvessem os personagens adultos nem sei se os dois conseguiriam seguir em frente em muitas partes da história.

A minha questão está mais na criação do mundinho propriamente dito. Em 1799 o mundo como conhecemos deixou de existir quando ocorreu a Grande Ruptura. Ao invés de um fluxo contínuo de tempo, várias eras e tempos diferentes do mundo passaram a coexistir em diversos locais do planeta. Essa mudança inclusive alterou as fronteiras e os nomes de alguns países, fazendo com que ficassem mais adequados à sua nova condição temporal.

Até aí, tudo bem. Mas para mim não ficou claro o que aconteceu com as pessoas de 1799 que viviam nos lugares que mudaram de era. Elas morreram? Elas continuaram vivas, mas só o ambiente físico/temporal em volta deles que mudou? Eu não consegui entender. Nem a questão do nascimento das Lácrimas, que tem a ver com as fronteiras de eras colidindo. Sei lá, vai ver que eu sou meio burrinha.

Essas questões meio que atrapalharam minha imersão completa na história, de realmente me apropriar do mundinho e acreditar no que existia na vida daqueles personagens.

Em contrapartida, a ideia de existirem cartógrafos que trabalham com mapas quase mágicos é bem interessante. Que as pessoas exploram o planeta de forma a tentar mapear da melhor forma possível todas as eras que agora fazem parte do Novo Mundo. Isso eu achei legal. Quando Sophia começa a aprender com seu tio Shadrack como ler os diversos tipos de mapa que existem é bem interessante. A proposta de mapas que não são somente os cartográficos, desenhados manualmente, mas que de alguma forma podem ser criados em diversos materiais e ativados de maneiras diferentes é bem legal.

Só que o desenvolvimento da história meio que impede que ele consiga realmente ensinar para a sobrinha como criar esses mapas especiais. Ela só sabe como fazer para ativá-los, não como produzi-los. Além disso, Sophia tem uma característica muito especial: a menina não tem um relógio interno, dessa forma ela não consegue ter noção da passagem do tempo. Para ela, a sensação pode ter sido de que se passou um minuto, mas na verdade são, sei lá, mais de 10 horas, em que ela ficou contemplativa ou pensando na morte da bezerra.

Existe uma tentativa de questionamento religioso, mas ele é muito superficial, mais como uma listagem dos cultos que existem nessa nova conformação do mundo. Mesmo que um deles seja, de certa forma, o responsável pelo desenrolar da trama de O Mapa de Vidro, não é bem por causa de questões religiosas, mas mais a forma como o “vilão” conseguiu se basear para ter os seus “seguidores”. Existe também uma pincelada sobre xenofobia e racismo em geral, quando a história trata das novas regras de imigração entre as eras, e quando fala das diferenças marcas que as pessoas que moram nas Terras Baldias podem ter. Mas não vai muito além disso.

Achei bem interessante a construção do “vilão” da história e suas motivações, e ele está fundamentalmente envolvido com o passado de Shadrack. É por causa disso que eu disse que os adultos são peças fundamentais no desenvolvimento da história. Sophia não tem todas as informações que precisa para resolver o quebra cabeças do problema da história.

Quando Sophia parte para a aventura propriamente dita, ela está junto com Theo. O personagem é interessante, mas a autora construiu sua personalidade de forma que nem Sophia nem o leitor sabem realmente quando podem confiar no menino. Eu terminei o livro ainda sem acreditar em nada que saia da boca de Theo.

O final foi meio confuso, principalmente pelos “poderes” de falta de noção do tempo de Sophia que são usados de maneira providencial e sem muita explicação, e da conversa cabeça que ela tem com um dos personagens. =/

Queria ter gostado mais da história, queria que tivesse mais explicação da formação das eras, dos pais da Sophia (que eram exploradores e desapareceram há mais de 10 anos), do uso e da criação dos mapas… Apesar do cliffhanger no final do livro não sei se foi o suficiente para me gerar interesse em ler outros livros da série.


Até a próxima! o/

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1 comentário

  • Responder rudynalva 19 dez 2015 at 22:01

    Samara!
    Quando criamos grandes expectativas, principalmente porque os livros anteriores são bem melhores, é bem frustrante.
    Li a Bússola de ouro e gostei demais, agora possivelmente até leia esse, entretanto, após sua resenha, vou com expectativas baixas.
    “Feliz, feliz Natal, que nos traz de volta as ilusões da infância, recorda ao idoso os prazeres da juventude e transporta o viajante de volta à própria lareira e à tranquilidade do seu lar.” (Charles Dickens)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    Participem do nosso Top Comentarista de Dezembro, serão 6 livros e 3 ganhadores

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