resenha

Estação Onze – Emily St. John Mandel

23 out 2015
Informações

estação onze

emily st. john mandel

intrínseca

série ---

320 páginas | 2015

3.75

Design 4.5

História 3

Certa noite, o famoso ator Arthur Leander tem um ataque cardíaco no palco, durante a apresentação de Rei Lear. Jeevan Chaudhary, um paparazzo com treinamento em primeiros socorros, está na plateia e vai em seu auxílio. A atriz mirim Kirsten Raymonde observa horrorizada a tentativa de ressuscitação cardiopulmonar enquanto as cortinas se fecham, mas o ator já está morto. Nessa mesma noite, enquanto Jeevan volta para casa, uma terrível gripe começa a se espalhar. Os hospitais estão lotados, e pela janela do apartamento em que se refugiou com o irmão, Jeevan vê os carros bloquearem a estrada, tiros serem disparados e a vida se desintegrar.

Quase vinte anos depois, Kirsten é uma atriz na Sinfonia Itinerante. Com a pequena trupe de artistas, ela viaja pelos assentamentos do mundo pós-calamidade, apresentando peças de Shakespeare e números musicais para as comunidades de sobreviventes.

Abarcando décadas, a narrativa vai e volta no tempo para descrever a vida antes e depois da pandemia. Enquanto Arthur se apaixona e desapaixona, enquanto Jeevan ouve os locutores dizerem boa-noite pela última vez e enquanto Kirsten é enredada por um suposto profeta, as reviravoltas do destino conectarão todos eles. Impressionante, único e comovente, Estação Onze reflete sobre arte, fama e efemeridade, e sobre como os relacionamentos nos ajudam a superar tudo, até mesmo o fim do mundo.

Design

Ah, como eu adoro verniz texturizado! Não consegui contextualizar muito com a história, que apesar de ser uma “distopia”, não é árida como em Silo. A não ser que você considere a relação entre os seres humanos sobreviventes, que pode ser difícil nesse futuro. Filosofias, filosofias…

Apesar de não ser uma capa original da Intrínseca eu gostei bastante do resultado da adaptação. O foco no céu estrelado que, com o fim da energia elétrica pode ser apreciado em sua efervescência de brilhos, quase perde espaço para a força visual das cabanas no canto inferior da imagem.

Gostei da combinação de uma fonte serifada para o título e uma sans-serif para o nome da autora, e de certa forma os dois tem quase o mesmo peso visual na hierarquia da capa. Detalhe para as duas adagas cruzadas, que é um símbolo importante para a personagem principal da história. Não curto muito quotes na capa, vocês já me viram reclamar algumas vezes, mas em Estação Onze ele está tão sutil que não interfere em todo o projeto gráfico.

A quarta capa é uma reviravolta em relação a arte da capa, parece que você está vendo o verso de um livro diferente. Mas tem a ver com o antes do fim, e é muito bonito em sua simplicidade. Ok, que acho que a transição entre a imagem do sofá verde e a chapada de cor verde do fundo poderia ter sido feita de uma maneira ainda mais suave, mas provavelmente eu sou a chata do design. :P

Os miolos da Intrínseca sempre me deixam com aquele gostinho de satisfação de ter um produto tão legal e bem acabado nas mãos.  Estação Onze não foge à essa regra. Abertura de partes em páginas inteiras, com o nome da parte em caixa alta e um grafismo simples.

Os capítulos sempre abrem em uma nova folha e são só numerados. Mas a primeira frase do parágrafo as quatro ou cinco palavras iniciais tem um tratamento diferenciado com fonte sans-serif é em caixa alta. O miolo em si é bem legível e elegante, com margens balanceadas, mas achei a entrelinha um pouco apertada para o tamanho da fonte. O projeto ainda possui cabeçalho e rodapé correto.


História

Uhn, eu acho que não entendi Estação Onze. Ou tinha uma expectativa muito diferente do que a história realmente me apresentou.

A questão de uma trupe de sobreviventes de uma pandemia de gripe e que são atores/atrizes e músicos que se apresentam nas cidades e se especializaram nas obras de Shakespeare? Fica totalmente em segundo plano depois da primeira parte da história.

Estação Onze é um livro não-linear, ele vai e volta do passado pré-gripe, acrescentando informações sobre a história dos personagens e sobre O acontecimento. Ele segue também alguns núcleos diferentes de personagens e tenta criar um clima de tensão e thriller com algumas situações, o que até dá um ar de sobrenatural, mas não conseguiu me envolver muito bem.

Acho que o principal problema foram os personagens e as viagens ao passado. Muitos momentos do livro se passam no passado de personagens que não sobreviveram à gripe, mas fazem parte da construção do que é a graphic novel Estação Onze, que dá nome ao livro. E assim, são personagens meio chatinhos. =/

Acho que eu queria saber como foi que os sobreviventes conseguiram efetivamente sobreviver. Queria acompanhar o que eles fizeram para se manter vivos em uma situação tão merda de praticamente extinção da raça humana. De declínio da tecnologia, da medicina, dos transportes, da ciência como um todo. Da falta de energia, de alimentos e água. Da luta de grupos de sobreviventes pelos poucos recursos que se achava.

Principalmente, eu queria saber como Kirsten, que era uma criança de 7 anos quando tudo aconteceu, conseguiu passar por tudo só com o irmão mais velho de uns 13 anos. Acho que eu queria (e esperava) uma aventura em um futuro distópico. Acho que queria uma história tipo Last of Us (o jogo da Naughy Dog) ou Eu sou a Lenda, em que você acompanha os personagens enquanto eles tentam sobreviver a uma situação sem controle. O futuro é uma bosta gigante, as pessoas estimam que 99% da humanidade morreu da gripe, mas não diz se os sobreviventes não tiveram contato com a doença ou simplesmente melhoraram. Como as pessoas que restaram fizeram para continuar vivendo?

O que eu acompanhei durante a leitura foram núcleos independentes de personagens, com dificuldades e angústias separadas, que podiam (ou não) ter se relacionado antes do “fim do mundo”, mas não conseguiram me conquistar. Não consegui me importar com os problemas dos personagens. Acho que em muitos momentos não fazia diferença se o ambiente era de um futuro apocalíptico ou o dia de ontem. Eram os conflitos de sobrevivência de “um dia qualquer”…

Então foi bem frustrante ter ficado com tantas opções de desenvolvimento da história simplesmente não cobertas, porque aparentemente, não são importantes para que o leitor se interesse por ela. Eu fui até o fim, mais na expectativa de saber se em algum momento a autora iria satisfazer minha curiosidade, ou se ia ser só um desenvolvimento muito interno dos personagens e de situações muito específicas para cada um, seja no passado ou no “presente”.

Também achei que o desenvolvimento e a resolução da crise da “religião do apocalipse” (o único plot de tensão que me interessou) foi muito rápida e sem aprofundamento. É totalmente compreensível que em uma situação sem explicação, que foi a morte de bilhões de pessoas, um ou outro procure respostas na crença e na religião, mas ficou meio méh, sem construção e envolvimento do leitor…

É interessante que, independente de eu ter achado o ritmo da história muito lento, invariavelmente os personagens que a autora apresenta estão de alguma forma relacionados. Se eles recebem foco durante o passado da narrativa é porque vão ter algum tipo de participação ou desenvolvimento em algum dos núcleos do livro no presente. Mas nada disso foi o suficiente para que eu realmente tivesse uma super experiência de leitura.

Uma pena porque o plot era muito interessante, só não foi desenvolvido do jeito que eu queria ver. :P #mimimi ¯\_(ツ)_/¯


Até a próxima! o/

banner-resenha-intrinseca_2015

Você também vai gostar

2 Comentários

  • Responder Babi Lorentz 26 out 2015 at 10:34

    Que saudade eu tava de ler essas resenhas suas com toda essa informação maravilhosa sobre o design! Você fala de um jeito tão legal que dá pra perceber a paixão que você tem por essa área. E isso é muito lindo!
    Recebi esse livro da Intrínseca mesmo depois de já ter cancelado a parceria, mas não reclamei. Só conheci a história depois que recebi em casa e até que fiquei com uma vontade de ler – e acredito que tenha sido por causa do quote na capa: George Martin falando sobre um livro? Preciso conferir!
    Uma pena que não tenha sido aquilo que você esperava. Odeio quando acontece dessa forma. Mas vou tentar. Vou tentar mesmo. Depois tento me lembrar de te contar o que achei, ok?
    Beijo;
    Babi.

    • Responder Samara Maima 26 out 2015 at 15:56

      Babi! Quanto tempo! ^.^ Fico feliz que você goste da parte de design das resenhas, eu realmente tenho uma paixão por design gráfico e alguns livros tão legais que me fazem ser (bem) prolixa. :P Se você ler me conta o que achou, não precisa ser aqui no blog, é só me chamar no Facebook. ^.~
      Beijos saudosos! :3

    Deixe uma resposta

    Descubra mais sobre Parafraseando Livros

    Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

    Continue reading