resenha

O Teste – Joelle Charbonneau

17 jul 2015
Informações

o teste

joelle charbonneau

única

série o teste #1

320 páginas | 2014

3

Design 3.5

História 2.5

No dia de formatura de Malencia ‘Cia’ Vale e dos jovens da Colônia Cinco Lagos, tudo o que ela consegue imaginar – e esperar – é ser escolhida para O Teste, um programa elaborado pela Comunidade das Nações Unificadas, que seleciona os melhores e mais brilhantes recém-formados para que se tornem líderes na demorada reconstrução do mundo pós-guerra. Ela sabe que é um caminho árduo, mas existe pouca informação a respeito dessa seleção. Então, ela é finalmente escolhida e seu pai, que também havia participado da seleção, se mostra preocupado. Desconfiada de seu futuro, ela corajosamente segue para longe dos amigos e da família, talvez para sempre. O perigo e o terror a aguardam.

Será que uma jovem é capaz de enfrentar um governo que a escolheu para se defender?

Design

Eu gostei bastante da arte da capa de O Teste. Tem vários elementos que aparecem na história e isso sempre é bom para contextualizar, depois que você termina de ler. :P O símbolo do grupo de Malencia, a cidade destruída por onde ela passa durante O Teste… De acabamentos tem relevo seco, verniz localizado e laminação fosca. Mas tenho um probleminhas, porque sou dessas mega chatas, com a quantidade de famílias tipográficas aparentemente diferentes na capa. Consigo ver pelo menos quatro diferentes.

Já comentei que acho que um projeto gráfico não precisa de várias famílias diferentes, mas pode ser trabalhado com pesos e formatos para modificar a hierarquia dos conteúdos. As fontes tem uma aparência muito próxima, mais um motivo para não utilizar tantas.

Apesar disso, acho a capa bastante chamativa e instigante, e eu seria fisgada por ela no mar da livraria com facilidade. O mais legal? A Única colocou um marcador na segunda orelha para você colocar na sua coleção. Eu que não sou boba vou deixar o meu aonde está para não correr o risco de estragar o livro com minha falta de coordenação motora.

Quanto ao miolo ele é bem simples e correto. A mancha é bem construída e equilibrada nas margens da página, usa uma fonte de ótima legibilidade com uma entrelinha adequada. Não possui cabeçalho de autor/título, o que tira pontinhos na nota final, mas tenta fazer uma firula nas aberturas de capítulo ao colocar um grafismo “grunge” nos numerais e ao usar uma fonte do mesmo estilo para as primeiras palavras do parágrafo de abertura. Valeu a tentativa, mas poderia ter se saído melhor ao abusar um pouco mais do símbolo da capa.


História

Preciso começar contando para vocês (pelo menos para os que não conhecem) o que o termo Mary Sue significa. Se você já conhece, pode pular essa parte.

Mary Sue é um termo que surgiu nas fans fictions de Star Trek para exemplificar (com tradução meia boca feita por mim):

A pessoa mais jovem e mais esperta a se formar na academia (do universo Star Trek) e conseguir uma comissão em tão tenra idade. Normalmente caracterizada por possuir habilidades sem precedentes em tudo, de artes à zoologia, incluindo karate e luta de rua. Esse personagem salva o dia com sua esperteza e habilidades, e se tivermos sorte, faz o favor de morrer no final, sendo lamentada por todos os tripulantes da nave. – wikipedia

Além disso:

É originalmente uma personagem feminina que serve como uma versão idealizada do autor pelo único propósito de relização de um desejo. Ela é exoticamente bonita, normalmente tem cor de cabelo e olhos incomuns, e ao mesmo tempo tem um nome diferente ou exótico. Ela é excepcionalmente talentosa em uma quantidade e variedade implausível de áreas e conhecimentos, e pode possuir habilidades que são raras ou inexistentes para o conceito da história. Ela também não possui nenhuma falha de caráter, sejam elas realistas ou relevantes para a história. No máximo as falhas são obviamente criadas para serem cativantes. – Tv Tropes

Ou seja, uma personagem Mary Sue é uma personagem perfeita, sem falhas, que se sobressai em tudo que faz e que todos amam. E os que não amam são utilizados como “vilões” na história. Pronto, descrevi Malencia Vale, a personagem principal de O Teste. =/

Assim, a história distópica de O Teste, toda a conceituação de que houve uma guerra nuclear/biológica, que durou sete estágios de destruição do mundo como um todo, deixando a Terra quase inabitável, é muito interessante. Os humanos que sobreviveram tentam recuperar o solo, a água, os animais que foram modificados pelas mutações, para reestruturar o planeta.

As várias cidades/colônias que estão nos EUA fazem parte da Comunidade Das Nações Unificadas, com “capital” em Tosu City. Todos os anos, os adolescentes que passam pela formatura em suas cidades se tornam adultos e participantes ativos em suas colônias. Eles são avaliados e podem ser chamados para a Universidade. Só que para serem um dos selecionados finalistas eles precisam superar os quatro estágios dO Teste.

Malencia/Cia estudou a vida toda para tentar ser escolhida para O Teste, porém há muitos anos nenhum adolescente da Colônia de Cinco Lagos é selecionado. Ela fica frustrada que no dia de sua formatura o representante de Tosu City não aparece, o que significa que ninguém foi escolhido. Só que no dia seguinte não só Malencia, mas outros três formandos são chamados para participarem dO Teste. O gatinho interesse romântico da personagem principal Tomas, a pentelha invejosa Zandri, e o mudinho que ninguém se importa Malachi.

Como a história é contada em primeira pessoa só podemos acompanhar a voz de Cia, e muitas vezes ela é meio sem emoção. No momento que os personagens chegam a Tosu City, Cia liga o seu poder “dig dim dig dim” e vira a “phoda das paradas” e sempre sabe o que fazer. Como interagir com os outros candidatos; como se dar bem em todas as provas; ela sempre sabe quando alguém está tramando algo “maléfico” porque ela é super esperta (e deve ter o sentido aranha do Homem-Aranha). Depois quando eles vão para o quarto estágio dO Teste, ela sempre identifica o inimigo, sempre pressente o perigo, suas armadilhas sempre pegam presas, e ela sempre encontra água e comida pelo caminho. Ela sabe como cuidar de cortes, machucados, tiros de balas, e sabe se virar contra quatro seres humanos modificados com garras e comportamento agressivo SO-ZI-NHA. E ainda reconstrói bicicletas.

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Meu problema com O Teste foi essa sucessão de vitórias e de falta de falhas da personagem. A ideia meio Jogos Vorazes/Battle Royale/Highlander de que “só pode haver um”, no caso aqui só 20 que entram para a Universidade, é bem interessante, mas Malencia é uma heroína muito badass para ser aceitável ou tragável. Todos os desafios que são colocados para a personagem sempre conseguem ser resolvidos. É como se ela tivesse uma gama infinita de habilidades e conhecimentos escondidos na manga pronto para serem usados sempre que a necessidade se fizesse presente. E ela sempre tem uma resposta para QUALQUER problema.

No único momento em que ela realmente falha, e que a autora conseguiu criar um “plot twist” que me envolveu, Malencia acaba “distorcendo” o sentimento que ela deveria ter de “fiz merda” para uma lição de moral. Toda sua jornada se baseia em ser a líder que Tosu City precisa, todas suas ações e suas decisões são pautadas nisso. Não existe profundidade nos sentimentos e na construção/amadurecimento da garota, nem mesmo quando a autora cria um interesse romântico entre ela e Tomas, porque o foco é ser aquilo que a Comunidade precisa.

No fim das contas, a “desculpa” que só os melhores e mais aptos entram na Universidade acaba sendo o motivo para jogar um bando de adolescentes, que são o crème de la crème, para utilizar da melhor (ou pior) maneira possível seu conhecimento, para acabar com seus concorrentes. Tudo isso sendo avaliado, monitorado e sancionado pelos funcionários dO Teste. Não há preocupação com as emoções dos participantes, pessoas morrem ao seu lado mas você tem que continuar focado em suas provas, ou pode ser o próximo a ser eliminado. Eu me pergunto que tipo de líderes a Comunidade realmente está interessada e o que a Joelle Charbonneau queria ao dar a oportunidade para os vis e cruéis serem os que obviamente teriam maior vantagem.

Eu entendo que a autora cria situações que “exigem” perfeição, porque Malencia aprende que quando se não segue ordens ou sabe seus limites ocorrem retaliações ou punições. Mas é TANTA perfeição o tempo todo que a personagem deixa de ser verossímil, além de ficar superficial. É quase impossível sentir identificação ou empatia por uma pessoa que nunca erra. Ela sempre vai ser melhor do que qualquer um, inclusive melhor que o leitor. Ela não é um exemplo, ela é um objetivo inalcançável.

O Teste tinha tudo para me conquistar, como Divergente antes dele. A história é interessante, toda questão dos estágios da guerra e de uma possível rebelião contra o governo atual, o mundo pós-apocalíptico de Joelle Charbonneau é real e plausível. A proposta dos personagens também poderia ter me conquistado, se a autora tivesse escolhido contar a história em terceira pessoa, e não na voz de Malencia.

Apesar disso tudo, ainda quero ler a continuação da série. ¯\_(ツ)_/¯


Até a próxima! o/

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