resenha

O Sol é para todos – Harper Lee

28 jul 2015
Informações

o sol é para todos

harper lee

josé olympio

série ---

350 páginas | 2015

3.25

Design 3.5

História 3

A nova edição de um dos maiores clássicos da literatura norte-americana moderna.

Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.

O sol é para todos, com seu texto forte, melodramático, sutil, cômico (The New Yorker) se tornou um clássico para todas as idades e gerações.

Com nova tradução e projeto gráfico, este clássico moderno volta à cena, justamente quando a autora lança uma continuação dele, causando euforia no mercado. Desde o anúncio de sua sequência, O sol é para todos é um dos livros mais buscados e acessados no site do Grupo Editorial Record. Já vendeu mais de 30 milhões de cópias nos Estados Unidos e, no último ano, ganhou a recomendação do presidente Barack Obama, que proferiu o seguinte elogio: “Este é o melhor livro contra todas as formas de racismo.”

-Vencedor do Prêmio Pulitzer.
-Escolhido pelo Library Journal o melhor romance do século XX.
-Eleito pelos leitores de Modern Library um dos 100 melhores romances em língua inglesa.
-Filme homônimo venceu o Oscar de melhor roteiro adaptado.

Design

Laranja. Taí uma cor que invariavelmente vai chamar a sua atenção se você entrar na livraria. Foi a mesma sensação que eu tive com O Círculo, lembram? Eu gosto. Lembro que na época da faculdade, por algum motivo que não faço ideia, laranja era a cor que nos definia como “dizainis”.

Gosto também da simplicidade da arte. O foco é total no lettering do título e do nome da autora, mas ali, bem no fundo, em tom sobre tom, tem o desenho de um tordo, que é o pássaro do título original do livro. Cada elemento tem a sua hierarquia e valor, que é dado pela escolha da cor e do tamanho da fonte. E, se não me engano, é a mesma família, trabalhada com pesos diferentes e também com caixa alta/caixa baixa.

Além disso, o acabamento é com aquele verniz “soft touch” então é como se você estivesse sentindo a maciez das penas do passarinho. Eu também sempre curto essa questão “sinestésica” que é possível atingir hoje em dia com os tipos diferentes de acabamentos e verniz.

A questão aqui é a mesma de todos os livros do grupo Record: o miolo. O Sol é para todos não foge a regra do miolo relativamente fraco em relação ao impacto causado pela capa. Já comentei em algumas resenhas do grupo aqui, mas os problemas são os mesmos: fonte grande, sem cabeçalho, impressão desigual ao longo do projeto… =/


História

Vocês já pararam para pensar o que esperariam de um livro que ganhou uma premiação? E se essa premiação fosse um Pulitzer? Depois de O Sol é para todos talvez eu tenha que começar a pensar que é quase igual aos filmes ganhadores de Oscar. Nem sempre o que os críticos consideram estupendo é interessante para o “público em geral”.

Eu conhecia o nome do prêmio por causa de As Aventuras de Lois e Clark, um seriado da década de 1990 sobre o casal Lois Lane de Clark Kent/Superman. A jornalista era focada em encontrar O furo de reportagem que daria um prêmio Pulitzer para ela.

Fui perguntar para nosso oráculo Google o que é o prêmio. Criado em 1917, o prêmio Pulitzer premia trabalhos com excelência do jornalismo, literatura e composição musical. Então, O Sol é para todos foi o selecionado em 1961, um ano após seu lançamento, e é um dos livros YA mais importantes e emblemáticos sobre um período muito específico da História americana.

A história se passa no início dos anos 1930, logo após a Grande Depressão americana, no Alabama, um dos estados do sul dos EUA. Esses estados eram reconhecidos por sua conduta racista e preconceituosas com os negros. Se você pensar que a escravidão nos EUA só foi abolida em 1863, haviam se passado 70 anos já, e que o sul ainda possuía grande fazendas de algodão (onde os negros trabalhavam como escravos), talvez dê para começar a entender o movimento social da época. Os grandes fazendeiros tinham “perdido” sua principal mão de obra.

Scout (Jean Louise) é a jovem protagonista e ouvimos a história através de sua voz. Ela é moradora de Maycomb, parte de uma das famílias mais tradicionais da região e seu pai é um advogado, uma figura importante e respeitável da cidade. Entretanto achei que seu relacionamento com Scout e o irmão Jeremy/Jem, em muito momentos parece frio e distante. Independente disso, a menina tem muito respeito e admiração pelo pai, grande parte das lições que acompanham a história vem de diálogos entre ela e o pai.

É através da voz de Scout que conhecemos vários fatos de Maycomb, de suas famílias peculiares, do dia-a-dia na escola, seu relacionamento com os vizinhos e o misterioso morador da casa ao lado, Boo Radley.

Durante uma boa parte da história o livro é bem lento, acompanhando o marasmo da vida de Scout e até fiquei preocupada de que, talvez, o livro fosse superestimado. Até que seu pai é indicado pelo tribunal da cidade para defender um negro acusado de abusar sexualmente de uma branca. Aí sim o livro começa a se tornar interessante e a fluir mais fácil.

É nesse momento que Scout mostra o quanto é intrinsecamente racista, refletindo um comportamento do seu meio, não necessariamente o de seu pai. Aliás, o Sr. Finch é a epítome do correto e da defesa do ser humano como pessoa e não como “castas” de acordo com sua cor de pele. É dele que vem as grandes lições de igualdade que permitem que Scout amadureça ao longo da história.

Para mim, a história só pega ritmo e se torna realmente envolvente na parte final, durante o julgamento, quando o Sr. Finch monta sua defesa. No resto do livro, acompanhamos mais um crônica familiar com lições de moral e valores. Quase uma propaganda contra o racismo e o preconceito.

O livro ainda é muito atual quando trata da diferença de tratamento e colocação social de negros e brancos. Todo mundo sabe que ainda hoje, por mais que o brasileiro afirme não ser preconceituoso, existe uma cultura do racismo inerente à sociedade. Nisso o livro faz bem ao trazer esse tema à luz do questionamento dos leitores. Ele levanta também a forma como as mulheres são percebidas, em discussões entre Jem e Scout a garota era acusada de estar “parecendo/agindo como uma menina”, o que de certa forma é mais um tipo de preconceito, ao desmerecer o comportamento “dito” feminino.

Ao mesmo tempo eu achei que a forma como todas as questões são levantadas e conduzidas é muito superficial, provavelmente porque ele é narrado por uma criança de apenas oito anos quando a história começa. Algumas situações refletem uma realidade de uma época, e muitas vezes o que poderia ser comum e normal gera uma certa inquietação e incômodo quando lemos levando em consideração a sociedade hoje.

Não sei… talvez eu tivesse uma expectativa muito elevada com o livro, por ser tão importante para a formação dos jovens americanos e ganhador de um Pulitzer. Talvez eu esperasse mais do que um simples arranhar da superfície de assuntos ainda tão delicados e muitas vezes polêmicos.

De qualquer forma é um livro que ilustra um período marcante da “luta” pela igualdade. Nessas horas eu sempre me recrimino por não ter (ou não lembrar) o conhecimento histórico necessário para contextualizar a narrativa em seu meio e com o que estava acontecendo aqui no Brasil. Muito provavelmente eu teria um aproveitamento muito melhor da leitura.

Tarefa cumprida: ler um clássico vencedor de prêmio. Pena que eu esperava mais.

Sobre o assunto preconceito, acho que vale muito a pena ver um episódio do Nerdologia, que trata exatamente sobre nossa convivência em grupos e como isso pode “gerar racismo”.


Até a próxima! o/

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2 Comentários

  • Responder Izandra Mascarenhas 30 jul 2015 at 19:10

    Sabia que você gostaria de cenas passadas em tribunais ;P Pra isso, indico “A Ira dos Anjos”, do Sidney Sheldon, e “Em defesa de Jacob”, do William Landon. Tratam muito bem esse tipo de cena jurídica norte-americana :3
    Fora isso, até estou com certo interesse em ler esse clássico… Vou ver se descolo um exemplar pra mim xD

  • Responder Leonardo 28 jul 2015 at 22:09

    Como assim eu não conhecia o melhor romance do século XX?! Interessei e vou ler agora!

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