resenha

Primeiras Impressões – LRDO

24 mar 2015
Informações

primeiras impressões

lrdo

kiron

série ---

304 páginas | 2014

3.5

Design 3.5

História 3.5

Primeiras Impressões é uma adaptação moderna do clássico Orgulho e Preconceito de Jane Austen. O romance eterno de Lizzie e do Sr. Darcy é situado desta vez entre paisagens paradisíacas do Brasil e cenários surpreendentes dos Estados Unidos, em um relacionamento complexo entre uma carioca sarcástica e brilhante e um político americano de uma família conservadora.

Design

Indo um pouco na contramão de muitos livros autopublicados, Primeiras Impressões tem um projeto gráfico agradável e correto. Na primeira vez que vi a capa não entendi o que ela tinha a ver com a história, nem deste livro nem do original de Jane Austen. Mas mais para frente na história, Liz descreve uma cena muito parecida com a pintura da imagem, e aí sim vi sentido. Só que, assim… não acho que é uma capa apelativa para o leitor. Não sei se chamaria minha atenção nas estantes da livraria. Eu muito provavelmente teria que ler a sinopse para ver se me conquistava, porque à primeira vista não ia rolar.

A lombada é simples, com uma chapada do mesmo tom de azul predominante da capa, e a imagem reaparece rebaixada na quarta-capa. A sinopse da forma como foi escrita não necessariamente me chama a atenção. Para mim esse texto caberia melhor no final de uma sinopse mais robusta, nas orelhas, e não como as informações que tem a “obrigação” de terminar de me vender o livro. Falando nas orelhas, achei meio estranho as informações da autora estarem na orelha esquerda, que tradicionalmente é onde se utiliza como área de sinopse da história. No fim, a orelha direita ficou vazia e a “primeira impressão” é que faltou conteúdo para as áreas textuais.

O miolo é bem correto, mas sem muita criatividade. Existe aquela “necessidade” estranha de colocar várias fontes diferentes ao longo do projeto, aparecendo uma família na abertura de capítulos numeradas, outra para o miolo, e outra na capa. Em compensação o miolo tem uma boa mancha, ocupando adequadamente a página com margens relativamente equilibradas. Achei bom juntar as informações que normalmente constam no cabeçalho com as páginas no rodapé, liberando o topo e deixando o texto mais arejado, mas não vi motivo para escrever o número do capítulo ao invés do nome da autora e o título do livro. Como o livro não tem nome para os capítulo, não vi muita necessidade de um sumário formal.

Eu particularmente gosto quando o projeto gráfico usa as marcações de diálogos “americanas” com aspas ao invés de travessão, como foi feito aqui. Quando o livro não tem uma revisão muito boa sempre sobram travessões nos meios dos diálogos, criando dúvida quando é realmente uma fala do personagem ou quando é comentário do narrador entre as falas. =/


História

Vamos a um momento de confissão: nunca li Jane Austen. Nem ela, nem vários dos considerados autores CLÁAAAAHRSSICOS. Charlotte Brontë, Charles Dickens, Dumas, Tolstói, <insira o nome de alguém famoso e morto aqui>… Então, o que eu conheço de Orgulho e Preconceito vem basicamente do filme de 2005, com a Keira Knightley, e tenho a impressão que ele é bem enxuto em relação ao livro original.

Pride and Prejudice - Kiera Knightly

Então, quando a Laís me enviou a oportunidade de ler sua modernização de um dos texto mais famosos de Jane Austen não pude recusar. E foi uma experiência muito agradável conhecer os personagens em um ambiente mais contemporâneo aos dias atuais.

A família Bennet virou Benevides, em sua versão brasileira. Em Búzios eles são donos de algumas das pousadas mais famosas da região. As duas filhas mais velhas estão retornando dos EUA depois de um período de estudos, para passar as festas de ano novo com seus pais e irmãs mais novas.

As primeiras páginas são para apresentar cada um dos membros da família Benevides: a mãe Janaína, fútil e escandalosa; Sr. Benevides é o pai que atura todas as mulheres, cada uma com suas loucuras; Jane, a mais velha, é doce e tímida; Liz tem espírito forte e é independente; Maria é o bichinho do mato, antissocial que só quer ficar no mundinho dos livros e no seu próprio quarto (me identifico); e a caçula, Lídia, que é uma porralokona, muito parecida com a mãe e de quem eu não gostei nem um pouco. Ela inclusive é o motivo de um dos conflitos mais horríveis do livro, entre Liz e Fred. Hunf!

Vindos dos EUA os irmãos Charles e Caroline Bing, e seu melhor amigo Frederick Darcy, estão em Búzios para estudar o ambiente onde o Bing pretende abrir uma franquia de seu restaurante. Por ser uma família influente, os Benevides convidam os três estrangeiros para a festa de fim de ano. E é lá que começam todos os encontros e desencontros dos personagens ao longo do livro.

Primeiras Impressões, assim como sua fonte de inspiração Orgulho e Preconceito, é uma história que gira em torno de mal entendidos, preconceitos, um pouco de instalove e aquele tipo de romance que começa com “eu te odeio” e que vira “eu te amo”. O instalove e a falta de diálogo entre Charles/Jane e Liz/Fred me incomodam um pouco. Mas eu curto o desenvolvimento do relacionamento de Liz e Fred. Por mais que Liz seja uma personagem extremamente insegura e influenciável, ela muda de opinião muito facilmente sem realmente confirmar as informações, consegui achar a jovem interessante. O livro flui bem e a história é boa, mas tive uns probleminhas aqui ou ali ao longo da leitura.

Quando comecei Primeiras Impressões tive um baque bem forte. O estilo da autora é muito formal. Para um livro que pretende ser uma releitura moderna de Austen eu achei que “a voz” do narrador não estava funcionando e a linguagem foi um dificultador durante os primeiros capítulos. A impressão que eu tinha era que os personagens e a narração combinavam mais com uma história dos anos 1920 do que com os 2010. Em dado momento acho que meu cérebro parou de lutar contra a leitura e diminuiu o senso crítico. Daí em diante eu consegui absorver melhor a história e curtir mais a leitura. Mas até acontecer essa virada mental, sofri um pouco com o que pareceu uma inconsistência de estilo com a proposta da história.

Não entendi muito bem qual foi a necessidade de colocar os personagens tão geografica e culturamente apartados. Fazer com que a família Benevides fosse brasileira e que os outros personagens viessem de um outro país me incomodou um pouco. Também me incomodou o fato de as personagens serem enviadas para fora do país para terem uma “educação apropriada”. Todo mundo sabe que educação não é o forte aqui no Brasil, mas né… Não sei qual é a vivência da autora, mas eu preferiria que ou ela assumisse que todos os seus personagens eram brasileiros ou americanos. Essa mistura não foi tão legal, principalmente porque não existe muito a “quebra” de momentos onde os personagens “falam” em português ou em inglês. Para mim era português o tempo todo e isso não fazia sentido uma vez que três personagens nem falam nossa língua.

Como já comentei não conheço a história original da Jane Austen, por isso não sei se lá os Bennets são de um país diferente de Darcy e dos Bingley. Então não sei se a autora estava mantendo e respeitando a mesma estrutura geográfica para os personagens.

Apesar de ter gostado do relacionamento de Liz e Fred demorei para entender a virada dos sentimentos dos dois, e de certa forma ela pareceu ter acontecido de forma um tanto abrupta. Hoje te odeio, amanhã gosto de você. Daqui há um mês… veremos. Ainda sobre o relacionamento dos dois, uma coisa me deixou intrigada. A autora constrói sua história dando um certo peso na informação de que Liz ainda é uma jovem virgem. Acontece que durante o envolvimento da moça com Fred, em várias situações eles ficam juntos, com insinuações de tchanãnã. Só que, por mais despreocupada e desinteressada que Liz possa ter sido descrita, a primeira vez de uma mulher não deveria ser alardeada e não “resolvida” ao longo da história. Se a autora não iria desenvolver esse plot no relacionamento de Liz e Fred, não havia necessidade em dar tanto valor para a informação no começo da história.

Queria ter ouvido a voz de Darcy ao longo da história, que ele tivesse seus próprios momentos de PoV. Como Liz é dada a mudar de opinião muito fácil, dependendo de quem está lhe passando as informações (ao invés de ir confirmar com quem realmente importa), você fica um pouco preso somente à sua visão das coisas. Acho que se houvesse a voz masculina de Fred em alguns momentos da história, ela teria ficado mais rica e ainda mais interessante.

Se esta é a primeira obra de LRDO merece um grande aplauso pela qualidade. Por mais que eu tenha tido um início mais travadinho, a autora conseguiu me envolver e me conquistar até a última página. Me deixou intrigada com algumas decisões para a história e isso às vezes é muito difícil para um primeiro livro de autor estreante.

Coisas boas que vieram pós-leitura de Primeiras Impressões. 1) Ter a oportunidade de trocar minhas percepções e dúvidas direto com a autora. Laís foi super receptiva e completamente aberta às minhas questões. Trocamos vários emails conversando sobre o desenvolvimento da história e dos personagens. Algumas coisas que escrevi aqui na resenha debati com a autora, dando um novo caminho para reflexão e novas possibilidades de versões para a história. ^.^

2) Definitivamente, preciso ler Orgulho e Preconceito/Pride and Prejudice, e pretendo fazer isso na língua original. Sei lá, eu gosto muito de ler os livros que já foram lançados por aqui em português, mas Jane Austen é um CLÁAAAAHRSICO e acho que merece ser lido na língua em que foi pensado e escrito.

Para os fãs da autora britânica, em 2012 foi lançada uma webserie no youtube com a mesma proposta que a Laís teve para Primeira Impressões, de modernizar e aproximar das pessoas “de hoje” a história de Lizzie e Darcy. Se vocês não conhecem, vale acompanhar os 100 episódios no youtube!


Até a próxima! o/

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