resenha

O Garoto-Cabra – Leonel Caldela

8 jan 2015
Informações

o garoto-cabra

leonel caldela

nerdbooks

série a lenda de ruff ghanor #1

320 páginas | 2014

4.75

Design 4.5

História 5

Nos confins de uma terra governada pelo dragão Zamir, ergue-se um mosteiro. Um garoto selvagem, dotado de poderes misteriosos, é encontrado pelos monges.

Seu nome é Ruff Ghanor.

Treinado desde cedo pelo rigoroso prior, Ruff se encaminha para derrotar o tirano. Ruff enfrenta as forças de Zamir e precisa liderar seu povo no combate. Contudo, antes de vencer o dragão, ele descobrirá segredos sobre si mesmo e seu mundo.

Design

O Garoto-Cabra era um livro que merecia 5 pontos de design mas três coisas me fizeram tirar 0.5 da nota final: os mapas, a ocupação da mancha na página, e a falta de informação no cabeçalho. De resto, o livro é impecável!

A ilustração de capa é linda! Já dá uma ideia do clima e ambienta o leitor na disputa entre Ruff e Zamir, além de dar uma aparência de “sujão” que é como eu imaginei a maioria das pessoas durante toda a história. Aliás, Ruff é gatinho, então já ganha pontos na nota! :P A escolha de fontes também foi muito adequada, com uma família quase slab-serif para o nome do autor e o número do volume, e uma bastante rebuscada, com efeitos de desgaste para o título do livro e da série. O logo da NerdBooks é um deleite à parte, com o ícone de um óculos grudado com durex representando os Os da palavra books.

Estandarte Diablo 3Vazando para a lombada e quarta capa, a ilustração envolve todo livro. Elas por sua vez, mantém o mesmo clima da capa, com o conteúdo bem balanceado e adequado para cada área. Interessante também que na quarta capa aparece o estandarte de Ruff Ghanor, que lembra muito os que aparecem no jogo Diablo 3, da Blizzard, tanto no formato quanto na estética. (Aliás, eu queria comprar a camisa do Ruff Ghanor com essa ilustração, mas fiquei preocupada se as pessoas iam associar que eu era satanista… O.o). Legal notar também que a área de código de barras foi trabalhada para manter a estética do livro.

Vamos às explicações sobre o miolo. Toda a parte pré-textual do livro são muito boas, com prefácio e sumário muito elegantes. O problema aqui foram as ilustrações dos mapas. “Mas Samara, você sempre reclama quando os livros de fantasia não tem mapas!” Verdade, mas eu gosto de mapas “geograficamente corretos”. Os que foram utilizados aqui pareceram réplicas de anotações rústicas feitas por algum aldeão, e para mim, não tiveram quase valor algum. Mapas como os de O Senhor do Anéis e A Guerra dos Tronos, que passam uma sensação mais realísticas me atraem muito mais como informação válida do que o que foi usado aqui.

Quanto a parte textual em si, as aberturas de capítulo são muito bonitas, todas contam com o número e título, em uma fonte que simula a escrita com pena sobre papiro, ou qualquer outro material mais rústico. O miolo é muito bonito, proporcional com uma fonte extremamente legível e agradável, e uma ótima entrelinha que cria uma mancha bem balanceada. O problema é que como o livro não possuiu cabeçalho com título e nome do autor, eu acho que a mancha gráfica poderia ser mais alta na página. Ainda mais porque como a lombada é alta, o projeto gráfico foi produzido de forma a que a margem interna fosse visualmente maior do que as outras três. Esse recurso é usado para ajudar o leitor a não ter que arregaçar o livro para ler os inícios ou fins de frase que estão próximos do centro. Só que achei que a metragem podia ser um pouquinho menor, para que a mancha ficasse mais larga horizontalmente.

Mas vamos lá! 4.5 é um notão, não acham?! ^.^


História

Quando terminei de ler O Garoto-Cabra eu estava em um estado de euforia, quicando de nervoso, e com uma vontade absurda de gritar vários palavrões para tentar arranhar a casca do que eu estava sentindo. Não sei como é com vocês, mas muitas vezes só dá para exprimir bem uma sensação quando colocamos um palavrão bem articulado “para fora”.

Tangled

Só que convenhamos, fazer uma resenha lotada de palavrões não ia pegar bem, apesar de que iria ser uma representação mais fiel dos meus sentimentos. Então, esperei uns dias, para absorver a história, para assentar os personagens, para me acalmar. E mesmo depois de tudo isso ainda continuo querendo me expressar de uma forma mais gutural. Só acho que agora eu consigo escrever uma resenha mais “tranquila”.

Para vocês entenderem o rebuliço que se passava dentro de mim, quando cheguei no último ponto da última frase do último parágrafo da última página, eu tinha certeza que tinha terminado o melhor livro do ano. Era uma daquelas certezas absolutas que a gente tem de vez em quando. Tipo: melhor pizza, melhor milkshake, melhor brownie… melhor livro de 2014. Tudo bem, quando eu terminei a leitura o ano ainda não tinha acabado, mas agora consigo dizer que com certeza o primeiro volume de Ruff Ghanor garantiu a presença no Top 5 de 2014.

Eu já tive uma ótima experiência lendo um livro de Leonel Caldela (não viu a resenha de O Código Élfico?), então de certa forma minhas expectativas para este livro estavam relativamente altas, e foi muito bom não vê-las serem despedaçadas. \o/

Ainda hoje, quando comento com alguém sobre minha experiência com Ruff Ghanor tenho certeza que meus olhos brilham de satisfação pela oportunidade de falar de um livro TÃO BOM. O Garoto-Cabra é um livro de construção de mundo, de conceituação, e por causa disso pode passar a impressão de ser lento ou cansativo (olha o pré-conceito! XD). Me desculpem, mas se você pensa assim, é porque não conhece e/ou nunca leu nada do Leonel Caldela.

Ruff é uma criança encontrada por dois monges do mosteiro de São Arnaldo e pelo filho do guarda da cidade, Korin. Os três o acham em uma caverna proibida para todos os moradores da vila e do mosteiro, matando com as próprias mãos lagartos gigantes, e destruindo o local com um soco inexplicavelmente poderoso. Levado para o mosteiro, ele é aceito pelo abade e começa a treinar para se tornar um clérigo de São Arnaldo.

Além de Korin, Ruff faz amizade com uma menina que é menosprezada e mal vista por todos os aldeãos, por ter um irmão mentalmente limitado e por sua mãe trabalhar na taberna como talvez mais do que uma simples atendente. Áxia guarda um segredo de todos, ela tem aulas diárias com uma antiga curandeira da aldeia, e está aprendendo magia arcana, que não é muito aceita pelos clérigos de São Arnaldo, que tiram seus poderes extraordinários das bençãos do santo.

A história segue os três jovens desde uma idade de 7 anos aproximadamente, mas com o passar das páginas você é tao envolvido pela dinâmica dos três que acompanhar seu crescimento, mesmo com alguns saltos temporais, é delicioso. Ruff é envolvente e intenso, assim como seus amigos que também são bastante profundos. Isso é uma qualidade de Leonel, que cria personagens com backgrounds complexos e interessantes, mesmo que sua  participação seja de poucas páginas ou capítulos.

Outra coisa maravilhosa que o autor faz é desenvolver os personagens afetivamente. Ruff pode ser um herói, pode ser aquele que esperam ser o responsável por levar o dragão Zamyr à derrota. Mas acima de tudo ele é um homem, com direito a falhas e a desejos. Sua dedicação e paixão por Áxia é tudo o que uma leitora romântica como eu espera no desenvolvimento de uma história de fantasia. O romance não é o foco, mas é um dos pilares que permite que o herói se desenvolva e cresça como personagem e como pessoa. E como eu torci para que os dois ficassem juntos! *-*

Em alguns momentos durante a leitura você pode encontrar cenas “clichês” de uma história de fantasia, situações que são esperadas em um desenvolvimento da jornada do herói. O legal aqui é que isso é meio que uma marca de Leonel. Ele vai envolvendo o leitor de uma forma natural e conhecida, dando subsídios para que ele ache que está em terreno tranquilo e esperado, e quando você acha que nada de diferente vai acontecer, o autor vai e joga uma reviravolta NA SUA CARA! E você se sente desafiado e instigado, porque você realmente não esperava tal acontecimento. Isso me desafia como leitora, e me deixa extremamente feliz por tamanha qualidade de desenvolvimento da história.

Os personagens principais podem ser o foco de toda a história, mas todos os secundários e de apoio dão o charme que o livro precisa para se tornar completamente envolvente. Porque eles tem personalidade, e mesmo em pequenas participações, conseguem ser tão interessantes e com tanta profundidade quanto Ruff, Korin ou Axia.

Além disso os diálogos são ótimos, as descrições das batalhas são cinematográficas, permitindo que você consiga visualizar exatamente os movimentos dos personagens e toda a ambientação da cena. Definitivamente Leonel Caldela consolidou todo o apreço que tinha conseguido em O Código Élfico, e conquistou totalmente minha atenção e interesse em qualquer coisa que ele lance (ou que já tenha lançado) daqui para frente.

Só tenho dois comentários finais. Primeiro: QUE FINAL FOI AQUELE MELDELZ?! QUANDO SAI O PRÓXIMO PELAMOR?! O.O Segundo: qual é o lance da barba para os personagens masculinos?! O cara atinge um certo nível de desenvolvimento tem que ser igual a “deixe a barba crescer”? Ou é um tipo de acessório que o personagem conquista quando sobe de nível do tipo “Parabéns você atingiu o nível barba de evolução”?  Não consigo lidar muito bem com esse coisa de que “homens maduros” e “barba” sejam sinônimos. A não ser que o personagem seja exatamente igual ao Chris Hemsworth… aí, talvez, eu possa tentar relevar. XD

Chris Hemsworth

Uma informação a mais sobre o livro. Ele foi uma criação baseada em uma série de podcasts do site Jovem Nerd, que eram uma partida de RPG gravada pelos participantes do site. Leonel foi convidado pelo Jovem Nerd e pelo Azaghal para dar vida a um pequeno detalhe que é comentado durante um dos episódios da partida de RPG, sobre o herói Ruff Ghanor. E foi assim que a mágica começou. ^.^

Se você quiser ouvir os nerdcasts originais é só seguir os links abaixo.

Nerdcast 251 – Especial RPG – O Bruxo, a princesa e o dragão

Nerdcast 291 – Especial RPG – O Duque, a rosa e o beholder

Nerdcast 241 – Especial RPG – O Corvo, a periguete e o bucentauro


Até a próxima! o/

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1 comentário

  • Responder Helena Cristina Cintra Eher 8 jan 2015 at 18:32

    Como fã do nerdcast já estava morrendo de vontade de ler esse livro Agora, essa vontade, simplesmente, duplicou!!!
    Bjos, Helena

    https://doslivrosumpouco.wordpress.com

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