resenha

O Espadachim de Carvão – Affonso Solano

10 abr 2013
Informações

o espadachim de carvão

affonso solano

fantasy - casa da palavra

série ---

256 páginas | 2013

4.75

Design 4.5

História 5

12

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Filho de um dos quatro deuses de Kurgala, Adapak vive com o pai em sua ilha sagrada, afastada e adorada pelas diferentes espécies do mundo. Lá, o jovem de pele absolutamente negra e olhos brancos cresceu com todo o conhecimento divino a seu dispor, mas consciente de que nunca poderia deixar sua morada. Ao completar dezenove anos, no entanto, isso muda. Testemunhando a ilha ser invadida por um misterioso grupo de assassinos, Adapak se vê forçado a fugir pela vida e se expor aos olhos do mundo pela primeira vez, aplicando seus conhecimentos e uma exótica técnica de combate na busca pela identidade daqueles que desejam a morte dos Deuses de Kurgala.

Design

Está ficando recorrente a qualidade dos projetos gráficos da Fantasy. Quando eu vi as imagens da capa de Espadachim fiquei impressionada com a ilustração e o trabalho no título do livro. Mas ainda não foi dessa vez que o projeto ficou com nota máxima.

Como eu disse, a capa me gerou uma certa expectativa e fiquei um pouquinho decepcionada ao ver que ela não teve nenhum tratamento diferenciado. Nenhum verniz localizado, nenhum relevo seco ou hotstamping. Outra coisa que não costumo gostar é essas citações que se coloca para chamar a atenção e ajudar a “vender” o livro. Se eu pudesse pedir para mudar só uma coisa seria exatamente isso, colocar a frase na quarta-capa e deixar a capa ser o objeto de venda e linda por si só.

Ainda na capa, só que nas orelhas, me incomodou um pouco o tamanho da fonte dos textos. Acho que se fosse um pouco menor evitaria a quantidade de viúvas que tem na orelha da capa, e que deixou o texto um pouco feio e espaçado.

O miolo é bem bonito e equilibrado, a fonte usada é muito agradável para leitura. Senti falta do nome do livro e do autor no cabeçalho das páginas, mas para compensar, as ilustrações de abertura de capítulo são muito legais, e desenvolvidas pelo próprio Affonso Solano. E finalmente acho que descobri porque os livros do grupo Leya, apesar de grandes, são mais leves. O papel lux cream de 70 g/m² faz toda a diferença no quesito peso.


História

Eu gostaria de dizer que é modinha, que as pessoas estão exagerando, que o livro não é tudo isso, mas eu não posso. Affonso Solano conseguiu criar uma história exatamente do jeito que gosto de ler. Então é 5 estrelas mesmo e eu vou contar para vocês porque.

Não sei vocês Pessoas, mas meus dias ultimamente são extremamente corridos e cansativos. Por isso, quando pego um livro para ler, eu preciso que ele seja interessante, estimulante, ágil e que me prenda completamente para que eu não cochile no transporte público. Encontrei todas essas qualidades em O Espadachim de Carvão, e confesso que fiquei muito surpresa com a qualidade da narrativa e com a maturidade no estilo do autor.

Affonso Solano conseguiu criar um mundo fantástico que não precisa se explicar, ele simplesmente é. A mitologia de Kurgala é contada durante a história, para e pelo personagem principal, que acaba representando o leitor que precisa de informações para prosseguir a leitura. Me senti muitas vezes em um jogo de Final Fantasy, principalmente os últimos lançados para PS3 e as versões de MMO. Principalmente quando o autor nomeava o que provavelmente era uma raça habitante de Kurgala, mas não a descrevia ou a contextualizava na história. Os NPCs de Final Fantasy também são assim. Outro exemplo: sabem a cena da cantina em Star Wars? A mesma coisa.

A descrição de personagens e a quantidade impressionante de seres diferentes refletem as vastas referências do autor. Para mim os Dingirï lembraram Chtullhu, Adapak parecia Voldemort (por mais bizarro que isso possa ser), as ïnannarianas os Na’vi de Avatar… São tantos com características diferentes que eu adoraria que o autor, já que é ilustrador, lançasse um livro de “bestiário” com a descrição e background de cada uma das raças.

Foi muito interessante ver como Affonso Solano misturou a Jornada do Herói, de Campbell, com o Mito da Caverna, de Platão, e criou uma história de fantasia medieval muito moderna. Adapak, o herói, é obviamente um reflexo do próprio autor, de suas crenças e ideais, o estereótipo de bondade e ingenuidade que costuma conquistar facilmente os leitores.

Não sei se vocês conhecem então é melhor fazer uma “Pausa para falar sobre O Mito da Caverna”:

Platão, um grande pensador grego, criou uma história para demonstrar o quanto os cidadãos da Grécia estavam presos às suas superstições. Na história, alguns homens nasceram e cresceram dentro de uma caverna e tudo o que podiam ver era seu fundo. Nesta parede, um pouco de luz vinda do exterior criava sombras do mundo fora da caverna. Para os homens que nasceram ali, aquele era o seu mundo e sua realidade. Um dia, um dos moradores resolveu sair da caverna e ver o que havia do lado de fora. Maravilhado com a descoberta de um mundo completamente diferente do que via “refletido” no fundo da caverna, decidiu voltar e contar para seus conterrâneos o quão iludidos e enganados estavam ao acreditar que o que viam era toda a realidade. Ao voltar para a caverna, seus amigos acabam não acreditando nele e resolvem puní-lo pela mentira.

De certa forma, o mito se reflete em como Adapak foi criado e em como ele se mostra surpreso ao se deparar com situações reais para as quais não foi preparado.

A história em si começa já no meio da ação, com descrição de cenas de batalhas bem detalhadas e fáceis de ser imaginadas. Mesmo quando os Círculos são citados, é possível entender que são a arte marcial praticada por Adapak, e se não fazem nenhum sentido no começo, a expectativa de que sejam explicados já prende o leitor nas 10 primeiras páginas. Além disso, as ilustrações de abertura de capítulo e as frases retiradas de possíveis livros de aventura, que são os favoritos de Adapak, dão exatamente o tom que será desenvolvido durante a história. Eu fiquei com vontade de conhecer a série de livros de Tamtul e Magano.

A forma como a narrativa é contada cria também uma forte dinâmica de impulsionar a história ao mesmo tempo que contextualiza os personagens. Para tanto alterna entre capítulos no presente, que mostram a fuga e batalha de Adapak para entender o mundo do qual viveu escondido, e outros no passado, que contam a história de Kurgala através dos ensinamentos de Enki’ När ao seu filho. Muitas vezes são estes capítulos do passado que conseguem fazer com que o leitor se situe mais confortavelmente nos acontecimentos do presente. Mesmo quando o autor se pega descrevendo coisas da história como os Círculos de Tibaul, a forma como a caverna onde Adapak mora funciona, ele consegue ser extremamente interessante e divertido.

Gostei bastante do estilo de escrita de Affonso, muito moderno e coloquial, sem em momento algum abusar de gírias ou de construções exageradas nas frases. Os capítulos mesmo alternados são muito bem interligados e com ganchos fortes que estimulam a continuação. O livro teria uma leitura rápida, sendo possível terminá-lo provavelmente em um sábado descontraído.

Só achei que o fim ficou um pouco corrido, com muitas informações para serem absorvidas e entendidas para uma conclusão. Ao mesmo tempo, fiquei muito feliz pela possibilidade que o final semi-aberto deixa para futuros episódios em Kurgala. Definitivamente, não estou disposta a abandonar o novo mundo e quero outras aventuras de Adapak.

Na minha opinião, Affonso conseguiu entrar para o meu seleto hall de “Melhores Escritores Brasileiros de Fantasia Atual”, e já pode fazer parte do grupinho de Eduardo Spohr e Raphael Draccon.


Até a próxima! o/

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3 Comentários

  • Responder retrospectiva 2013/1 | Parafraseando LivrosParafraseando Livros 19 ago 2013 at 11:18

    […] presente no blog e eu fiz resenha de dois livros lançados pela editora no primeiro semestre O Espadachim de Carvão e O Código […]

  • Responder Dayane 11 abr 2013 at 15:37

    Oi, ^^

    “interessante, estimulante, ágil e que me prenda completamente …” só por, nesse trechinho da resenha, você dizer que encontrou essas características cativantes nesse livro, já estou curiosa sobre ele *-*

    Faz tempo que tento sair do ritmo de leitura em que estou; a maior parte romance, ou com resenhas que comecem com “podem pegar uma caixa de lenços porque, ao ler esse livro, você vai precisar” O.o’ rs’ Estava mesmo tentando achar algo que tivesse algo mais a ver com ação, mas também com sobrenatural que sempre será meu gênero favorito.

    Você me deu a expectativa de encontrarei isso nesse livro. rs’ Quero conferir :]

    ~> Beijusss…;

  • Responder Nyew 11 abr 2013 at 14:42

    Nossa, como eu quero ele!

    No geral, capas verdes me chamam a atenção, principalmente pelo fato delas serem… verdes!
    Lógico que não tenho toda ideia crítica refinada e interessante sobre capas como você tem, mas esta me agradou muito. Junto com a Sinopse então…

    Graças à Deus consegui comprar um carro e ele virou meu meio de transporte diário para o trabalho, mas sabe que há um grande problema nisso? Meu tempo para ler diminui muito! Desde então, as pilhas de livros (é, minha estante é pequena e preciso empilhá-los) e mangás não lidos aumentaram. E muito!
    Apesar disso, O Espadachim de Carvão precisa vir fazer parte desta pequena estante, ainda mais agora após ver sua opinião.

    Parabéns!

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