resenha

Helena de Troia – Francesca Petrizzo

10 ago 2012
Informações

helena de troia

francesca petrizzo

lua de papel / leya

série ---

208 páginas | 2012

3.5

Design 3.5

História 3.5

Um navio retorna de uma intensa batalha pelas costas gregas. Uma mulher observa o contorno do Peloponeso na penumbra do crepúsculo. É a jovem Helena, oferecida pelo pai ao conquistador Menelau para garantir a paz e sobrevivência de seu povo. Uma fatídica decisão que seria carregada de tristeza e tragédia, porque Helena começa a buscar nos braços de outros aquilo que lhe fora negado. Numa narrativa lírica e original, esta obra traz a versão de Helena da história lendária que é conhecida em todo o mundo. A disputa que originou a guerra de Troia. De sua infância em Esparta aos anos turbulentos de sua união com Menelau e a fuga com Páris e todas as suas consequências. A vida de uma mulher que estava destinada ao poder, mas era movida a paixão e seu amor provocou uma das guerras mais famosas de todos os tempos.

“Helena é meu nome, mas posso ouvi-los me chamando de adúltera nas minhas costas. Eu nasci em Esparta, mas fui embora para Troia, por amor. Eles costumavam dizer que eu era a mulher mais bonita do mundo e viviam julgando o quão pouco ganhei e o quanto perdi depois que fugi, mas eles não estavam lá depois de tudo o que passei. Eu estava.”

Design

O que eu mais gostei nesse projeto de Helena de Troia foi o tamanho e o peso do livro. Ele entra naquela linha que tem me agradado muito de livros pequenos que, por terem poucas páginas, ficam muito fofos e agradáveis de segurar.

De resto, o projeto gráfico está correto mas tenho algumas considerações.

Na capa o layout está contextualizado com o tema “Grécia”, utilizando grafismos geométricos que é muito identificado com a cultura grega. Não achei que a modelo correspondem a uma boa imagem da Helena, que é descrita como uma mulher de cabelos claros.

No miolo, o projeto abandona o contexto grego da capa e não utiliza em nenhum momento os grafismos geométricos, mas uns florais que não associei à arte grega. A mancha gráfica é bonita, com a fonte pequena e agradável para leitura.

Não gostei muito das páginas de abertura das partes em que o livro é dividido, utilizando uma fonte sem serifa, muito reta e em caixa alta, com um efeito de sombra que me pareceu desnecessário e que não combina com o resto do projeto gráfico.


História

Quando eu era pequena, na primeira Bienal do Livro de que me lembro, meu pai me deu o livro que iniciou meu amor por mitologia grega (A Grécia: Mitos e Lendas). Nele, além dos deuses e de grandes personagens como Hércules e Perseu, era contada com belíssimas ilustrações a história de uma das mais importantes guerras gregas: a Guerra de Troia (que eu acho muito bizarro escrever sem acento… mas vamos seguir o acordo ortográfico, né?).

Provavelmente todo mundo conhece a história da guerra. Helena, rainha de Esparta, é sequestrada por Páris, príncipe de Troia, e todos os reinos da Grécia se juntam à Menelau para recuperar sua esposa. Grandes nomes surgiram nessa guerra: Aquiles, Heitor, Ulisses, e ela foi magistralmente contada na Odisseia de Homero. Um grande ditado também veio desta história: presente de grego, por causa do cavalo oco construído por eles. Mas a guerra ainda não havia sido contada pela voz do pivô do conflito.

Helena. Considerada a mulher mais linda da Grécia. Que se dizia ser filha de Zeus. Herdeira de Esparta. É na voz dela que ouvimos a história em Helena de Troia. Uma voz muitas vezes confusa e aflita, com frases em linguagem indireta, cheia de vírgulas separando o raciocínio e que criam pausas estranhas. Confesso que tive que reler alguns parágrafos para realmente entender o que a personagem queria dizer.

Acompanhamos a vida de Helena desde sua infância, quando é sequestrada por Teseu, até sua vida adulta, durante a Guerra de Troia. A personagem criada por Francesca Petrizzo é um jovem em busca de felicidade em uma sociedade que a vê como um objeto a ser oferecido como dote por sua família. Tem um relacionamento conturbado com sua irmã mais velha Clitemnestra, uma visão fria e distanciada de sua mãe e mal fala com os irmãos gêmeos, Castor e Pólux. Ela acredita que sempre seria vista como um objeto de prazer e desejo para os homens e nunca conheceria o amor.

Nossa Helena se relaciona com alguns homens durante a narrativa: um soldado do exército de Esparta (e seu primeiro amor), Diomedes, Aquiles, Menelau, Páris e um que para mim foi uma surpresa, de certo modo agradável, e que vou deixar em suspense.

A autora manteve o mesmo apelo/personalidade de muitos personagens que aparecem durante a história. Páris continua um covarde insuportável (dá para perceber que eu não gosto dele :) ); Aquiles é o herói convencido; Heitor o homem de família, que zela pelo bem estar de todos; Cassandra é a maluca tocada pelos deuses que eu adoro.

Apesar da narrativa em primeira pessoa às vezes ser confusa, gostei muito de conhecer a visão de Helena. Eu já tinha lido a guerra de Troia na voz de Cassandra, a profetisa desacreditada, contada por Marion Zimmer Bradley em O Incêndio de Troia. Na voz de Helena, a história ficou um pouco mais humana, mais feminina e talvez um pouco mais crível, ao desconectar o divino e o fantástico como causadores e mantenedores da guerra em si.

Fora o romance que deixei em suspense, não esperem muitas novidades em cima do mito da Guerra de Troia. A autora só recontou a história que já conhecemos o final na voz de Helena. Por isso senti falta de um desfecho melhor para Eneias, Hermione e Clitemnestra (que simplesmente desaparece quando Helena vai para Troia). Assim como muitos acontecimentos da própria guerra que não são contados porque, obviamente, Helena não estava presente.

Fiquei satisfeita que a editora preferiu  dar o nome da personagem ao livro, ao invés de fazer uma tradução literal do título original Memorie de una Cagna (Memórias de uma Cadela). Durante a narrativa várias vezes Helena comenta que esta é a forma como os seus servos e outros nobres a veem e sussurram às suas costas. Particularmente prefiro ser convidada a ler a história de Helena do que enaltecer esta visão deturpada de sua busca por felicidade.

Recomendo a leitura para quem conhece ou não o mito. Adorei reencontrar os personagens com a abordagem de Francesca Petrizzo.

E para os que gostariam de saber mais sobre mitologia sugiro a leitura de: Mitologia Grega e Romana – P. Commelin; Mitologia – Edith Hamilton; e Dicionário de Mitologia Grega e Romana – Mario da Gama Kury.


Até a próxima! o/

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